- Truco! - Seis!!!
- Valdemir Pires
- 7 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 8 horas

A disputa política às vésperas das presidenciais e da renovação do Congresso Nacional no Brasil já começou. O fato de estarem na mesa as cartas da reforma tributária levemente redistributivista encabeçada por Hadad levou a que a oposição à direita gritasse: “Truco!”, ameaçando virar a mesa, na certeza de que o faria na moleza, aproveitando-se da tradicional ira antitributária cartacterística da classe média, embora beneficiadora, de fato, dos ricos.
Lula, desatordoando-se, gritou: “Seis!!!” Em discurso amplamente difundido nas redes sociais, afirmou que se ele estiver certo na sua leitura da conjuntura (de que o povo vai apoiar ativamente a reforma, que isenta de imposto de renda quem ganha até cinco mil reais – a classe média baixa), será o primeiro a ser eleito à Presidência da República por quatro vezes.
Os potenciais “prejudicados” – uns 140 mil e poucos ricos que passarão a pagar imposto de acordo com sua capacidade contributiva (ou seja, reduzindo suas poupanças), para aliviar os que hoje pagam sem ter capacidade contributiva (pagam sacrificando a própria alimentação) – estes já soltaram na praça um brado: “Nove!!!!!!” Este nove quer dizer: se o governo continuar com esta política de nos “espoliar”, vamos repatriar nossos capitais; e daí vamos ver quem vai financiar as despesas futuras...
Nesta seara de confronto entre finanças públicas e finanças privadas, talvez não se chegue ao: “Doze!!!”, porque o: “Nove!” dos ricos é blefe. Em que lugar do mundo estes rentistas encontrarão remuneração tão alta como no Brasil atual, apenas especulando, sem pôr a mão na massa, ou seja, aplicando em papéis sem de fato investir produtivamente? Se levar a grana para fora fosse uma alternativa séria, primeiro, o fluxo de capitais estrangeiros, produtivo e especulativo, não estaria circulando por aqui; segundo, esses especuladores nacionais já teriam se mandado para o exterior faz tempo (ou alguém acha que ele têm aplicado no Brasil por patriotismo e não porque aqui ganham mais do que lá fora?).
Esta postura de: “Ou joga como eu quero, ou eu levo a bola embora”, é manjada. Se funciona em brincadeira de criança, é risível infantilidade na política. Que tal mudar a postura, tirar o pé da “quinta série” e vir para o mundo da economia e da política de gente grande? Por que não sentar à mesa, não para o truco ideológico sem futuro, mas para tentar um pacto pela inserção do Brasil no caminho do neodesenvolvimento do século XXI?
As oportunidades de ganho, de lucros, de enriquecimento relativamente fácil e rápido, existem concretamente no Brasil, se a elite e a classe média locais aceitarem que é preciso elevar o nível e o padrão de consumo da imensa maioria do povo, com o propósito de, finalmente, ganhar escala para numerosos tipos de indústria, algumas das quais, inclusive, de padrão tecnológico antigo, que se dirá, então, das novas. Essas oportunidades não serão aproveitadas se a imensa maioria das famílias continuarem na penúria, enquanto os donos do dinheiro o fazem crescer especulando imobiliariamente, com papéis do governo, com oportunismos inconfessáveis no leilão que tem sido o desmonte de patrimônios públicos nas ondas privatizantes e de “parcerias” das últimas décadas.
O crescimento econômico, senhores, é a melhor alternativa para sustentar qualquer carga tributária; quando a produção mingua ou vai a passos de formiga e sem vontade, o conflito distributivo dispara e o resultado vai de ruim a péssimo num piscar de olhos, não importa se o governo é de direita ou de esquerda. Agora, o crescimento econômico com distribuição justa da renda, este sim é a base para a felicidade de uma nação. Ou alguém, aí, entre os donos da bola, é capaz de afirmar e sustentar o contrário com argumentos sólidos e dados históricos críveis?
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