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The end of the american way of life

  • Foto do escritor: Valdemir Pires
    Valdemir Pires
  • há 6 dias
  • 5 min de leitura

Atualizado: há 21 horas

Imagem: Wix
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Vai chegando ao fim o modo americano de vida, pois seus alicerces estão todos ruindo. E diante disso a atual juventude começa a entender, à sua maneira e neste seu tempo, um trecho de canção que a inesquecível voz de Elis Regina não deixa esquecer: “o sinal está fechado para nós que somos jovens”. Em todo o mundo, moças e rapazes dão claros sinais de desalento e até mesmo de desistência, identificados e criticados como uma geração que não quer trabalhar nem estudar.

 

Por seu turno, os velhos baby boomers que ainda restam, saudosos beneficiários do crescimento econômico do pós-guerras, dividem-se em dois grupos de classe média: o dos macaquinhos tapando olhos, ouvidos e boca (“Não tenho nada a ver com esta confusão!”); e os guardiões da pátria, da família, da moral, da liberdade, não raro ao abrigo da “palavra de Deus” tal como sua própria e conveniente interpretação.

 

De fato, o sinal está fechado para nós – que somos crianças, jovens, adultos e velhos, se pobres em ascensão ou de classe média estabelecida (baixa, média ou alta) – neste primeiro quarto do século XXI, que trouxe consigo suficientes mudanças para fazer ver que os nossos modos e estilos de vida, consolidados no nosso jeito de viver ao longo do século XX estão indo por água abaixo.

 

Basta ver como estão rapidamente se tornando vazias de sentido certas expressões com que nos habituamos a nos referir às nossas vidas, individuais e coletivas, nacionais e globais.

 

É possível que a expressão-chave, aquela da qual de certa maneira derivam as outras, para tipificar o modo de vida que está ruindo, seja, não por acaso expressa em inglês, american way of life.

 

O modo americano de vida, por décadas e décadas copiado e ensaiado pelo mundo afora, numa espécie de colonização cultural que abria mercados sem os esforços militares que o imperialismo anterior tinha que mobilizar, perdeu a funcionalidade que tinha. Por quê? Por duas razões fundamentais. Primeira: a produtividade da economia americana foi derrotada pela chinesa, e a inovação tecnológica caminha na mesma direção, reduzindo a importância dos Estados Unidos na economia global. Segunda: está difícil para a economia interna americana garantir sucessivas levas de famílias ascendendo à classe média, o que resulta na atual demonização dos imigrantes há pouco tão necessários ao conforto dos estadunidenses que não precisavam, com suas rendas anuais elevadas, fazer o “serviço sujo” deixado aos cuidados dos latinos esfomeados em busca de um naco do “sonho americano”. Ou seja, o american way of life está se tornando um sonho, difícil de se realizar, para os próprios americanos. E isso é facilmente notado caminhando-se pelas grandes cidades dos Estados Unidos. Em contraste, exatamente, com o que se vê nas metrópoles novinhas que a China hoje ostenta. Tem-se a nítida impressão – que não deve ser falsa – de que o american way of life mudou de endereço, de continente, do Oeste para o Leste, sem alterar o nome no passaporte.

 

Há uma expressão que é gêmea siamesa do american way of life: self made man. O indivíduo que se faz a si mesmo, com seu esforço, por méritos próprios (meritocracia) é o mais precioso elemento do orgulho americano, que pessoas de outros povos tentam copiar partindo de condições impeditivas que costumam ser desconsideradas (diferentes fases históricas e níveis/padrões de desenvolvimento das economias nacionais em comparação com as demais). Do jeito que o carro a combustível anda (para não dizer a carruagem, que soaria antigo demais), não tardará o dia em que os americanos terão que copiar do Brasil a idiota e idiotizante inclusão de empreendedorismo nos currículos escolares, talvez cometendo a mesma barbeiragem de esquecer que antes é necessário elevar a compreensão popular das finanças, especialmente pessoais, das quais os americanos até agora têm tido tanta percepção, a ponto de tornaram perigosos especuladores nos mercados alavancados que deram na crise de 2008, até agora mal resolvida.

 

Ah, mas na China não há democracia, e a democracia representativa de massas está no âmago do american way of life, que não se concebe senão sobre as bases da liberdade individual, de ir e vir, de pensamento, de expressão, de opinião, de empreendimento, com sagrado respeito à propriedade privada.

 

Ora, ora, ora! Atenção! O que se tornou a democracia americana? A que ela está conduzindo os Estados Unidos? Quem não vê que Donald Trump é a antítese do que na América do Norte se pode definir, inteligente e responsavelmente, como democracia, ou é cego ou, por razões confessáveis ou não, evita ver. E, note-se adicionalmente, o velho topetudo (no sentido denotativo e também conotativo da palavra) é apenas o mais poderoso de tantos outros trumpzinhos mundo afora, como Milei e Bolsonaro, por exemplo, na América do Sul: direita com o pé atolado no pântano do fascismo, inimigos da democracia.

 

Paraíso do livre mercado, a ponto de buzinar o tempo todo, para o mundo todo, que Banco Central tem que ser independente, resumindo-se a guardião da moeda contra o ímpeto gastador irresponsável dos governantes populistas, agora os Estados Unidos estão sob um presidente que diariamente ameaça o condutor da autoridade monetária de seu país, chegando ao ponto de dizer que assumirá ele mesmo esta função. É o fim definitivo da defesa, até ontem intransigente, do neoliberalismo? Sim, porque não há nada mais sagrado para esta corrente do “pensamento” econômico do que manter a inflação sob controle do “politicamente neutro” xerife da economia monetária que atende pelo nome de Banco Central.

 

Também quanto ao livre mercado no âmbito das transações comerciais entre países, os Estados Unidos trumpiano está virando ao avesso. Sentindo-se prejudicado pelo surfar desenvolto dos chineses nas ondas da globalização, agora lança-se na pior guerra tarifária da História, legando a Organização Mundial do Comércio a um escritoriozinho sem nenhuma importância, cujo custo de manutenção bem poderia ser economizado. Nem é preciso comentar este passo desvairado do imperador ianque com coroa de chumbo. Não fosse o seu poderio bélico, já teria sido caçado com requintes de crueldade, feito um Saddam Hussein ou um Muammar Gaddafi. Fosse forte o suficiente, a Otan já teria agido.

 

E a menção da Otan faz lembrar outra expressão, escrita em latim mas levada à prática em inglês do Novo Mundo: Pax americana. Ou paz ao modo da ONU, cujo Conselho de Segurança tem um dono que agora está nas mãos de um doido, sentado sobre ogivas nucleares e rodeado de armas convencionais devastadoras, cujo custo poderia reduzir formidavelmente a miséria no mundo. E esse doido vai por aí, lançado gasolina sobre matéria seca e ao vento (um mundo às vésperas de explodir em guerra generalizada), achando que com sua varinha mágica pode conter este e fazer avançar aquele, em confrontos por todo lado. Ao mesmo tempo, corta ajudas humanitária que davam ao império uma face benevolente. Sintomático que a China atue de outro modo, estabelecendo parcerias, financiando infraestruturas, clamando pela paz sem lançar mísseis – chegará o momento da Pax chinesa? Isso é tudo que Trump menos deseja e contra o quê apostará todos os seus cartuchos, sem, contudo, preservar a Pax americana.

 

Só o multilateralismo pode tirar o mundo dessa enrascada. Mas é exatamente ele que está na mira dos esforços de reedição da recém-sepulta Guerra Fria entre EUA e URSS. Acontece que na Guerra Fria II – O retorno, o mocinho é a China e o bandido é o decrépito império americano.


P.S.: A tarifação de exportações brasileiras para os Estados Unidos em 50% é mais um ato desesperado de Trump para, indiretamente atingir a China. E este ato revela, primeiro, que o presidente americano é impiedoso - não lhe importa que inocentes sejam atingidos na sua guerra comercial; e, segundo, revela a face covarde do mandatário norte-americano. Tão covarde que está chutando cachorro praticamente morto. Resta saber se não se trata bicho com complexo de vira-latas. A escalada diplomática o dirá.

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