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  • Foto do escritorValdemir Pires

Enquanto água



Sobre Enquanto água, de Altair MARTINS (Rio de Janeiro: Record, 2011, 155 p.)

 

            Encanto água, este também poderia ser o título deste livro, pela beleza dos textos e também da capa (de Leonardo Iaccarino) e das ilustrações internas (de Rodrigo Pecci). E é para ser lido em busca de encanto, não de enredos. Trata-se de uma coletânea de contos que primam pela experimentação formal, o que costuma causar estranhamento ao leitor acostumado a ler histórias convencionais, com começo-meio-fim. Ainda assim, este leitor tradicionalista deve se esforçar para ler Enquanto água, para aprender a usufruir da arte literária que não se limita a contar histórias, mergulhando no universo das sensações criadas pelo manejo das palavras de um modo que vai além do comunicativo, de modo expressivo. Um bom procedimento, neste caso específico, é apreciar a ilustração que antecede cada conto, em seguida ler o conto, depois voltar à imagem e tentar ligar uma arte à outra.

            A água é o elemento presente em todos os contos (daí o título bem escolhido), seja como rio, mar, chuva, fórmula química ou um copo cheio; e eles são agrupados em quatro seções: chuva na cara (com 8 contos), depois da chuva (apenas 1), garoa (3 contos) e água com gás (6 contos), convidando a um... mergulho. Não se deve ler para entendê-los, mas para uma aproximação a sentimentos e sensações a que remetem, na busca poética de compreensão de afetos e situações.

            O leitor convencional (chamemos assim) pode iniciar a leitura pelo primeiro conto, chamado Margem futura, pois se sentirá “em casa” lendo a aventura de uma mulher que tentará fugir do marido, alcoólatra violento, atravessando um rio num barquinho, de madrugada, carregando consigo uma criança de colo. Já o leitor experimentalista (chamemos assim) se benefiacirá por começar lendo Toda a novidade do mundo, uma onírica reflexão sobre a crise ambiental.

            O leitor que queira rir (embora nervosamente, se residir em um condomínio) não pode perder Patologia de construção, sobre a saga (surreal) de um morador de apartamento às voltas com goteiras e problemas estruturais no seu prédio.

            Presença é um ponto alto do livro. Relata e descreve a loucura de um homem, de Porto Alegre, cuja mulher o deixa, levando consigo as duas filhas para Santa Catarina, onde passa a viver com outro. O leitor poderá julgá-lo, mas talvez possa também compreendê-lo (ainda que não o perdoe).

            Vá em frente! Respire fundo e mergulhe. De olhos abertos. Quando voltar, entenderá o que dizia o filósofo: jamais se retorna o mesmo de um rio em que se mergulhe.

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