Imagem: Divulgação/Netflix
Sobre A grande entrevista (2024), direção de Philip Martin e roteiro de Peter Moffat e Geoff Bussetil, com Gillian Anderson (Emily Maitlis), Keeley Hawes (Amanda Thirsk), Billie Piper (Sam McAlister) e Rufus Sewell (Príncipe Andrew). Baseado em fatos reais envolvendo a família real inglesa.
Em 2019 o príncipe Andrew concedeu entrevista a Sam McAlister, do Newsnight da BBC, a respeito de sua conhecida amizade com o magnata norte-americano Jeffrey Epstein, condenado por tráfico sexual de crianças, uma das quais alegou ter sido abusada pelo filho da rainha Elizabeth II. É esta a “grande entrevista” de que trata o filme. Foi depois dela que o príncipe se viu obrigado a afastar-se de suas funções, acuado pela repercussão de suas respostas à jornalista.
A grande entrevista, como costuma acontecer com filmes baseados em fatos reais, busca proporcionar ao expectador uma visão dos acontecimentos a partir de uma ótica preestabelecida, enfatizando protagonistas, passos e momentos cruciais, causas e consequências e uma “moral” ou mensagem. No caso, a conclusão a que se tenta conduzir é a da importância do jornalismo investigativo para que justiça seja feita a criminosos e seus cúmplices, independentemente de sua condição social, riqueza e poder; subliminarmente, procura-se destacar a importância do papel de pessoas que não costumam ser reconhecidas por seu trabalho em situações como a relatada (não fosse a insistência e a capacidade de negociação de Sam McAlister, interpretada por Billie Piper, Andrew não teria ido à TV).
A temática deste filme é não apenas “manjada”, como meio fora de época, pois aparece num momento em que, face à crise dos jornais e das emissoras de TV, frente aos novos meios de comunicação oportunizados pela internet, o jornalismo, especialmente o investigativo e comprometido com nobres valores, perdeu a importância que teve em outros momentos históricos. Em lugar dessa temática o que se coloca hoje em dia, com muito mais força e relevância, é o problema da disseminação de fake news (notícias deliberadamente falsas), contra as quais cabe perguntar se o jornalismo tem algo a contribuir (ainda que seja um jornalismo totalmente diferente daquele retratado em A grande entrevista).
Cinematograficamente falando, trata-se de uma realização para entretenimento, sem qualquer pretensão artística, conforme o padrão mais comum no modelo de streaming praticado pela Netflix.