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  • Foto do escritorValdemir Pires

Trilogia "Tempo"



LIVRO I

O que é o tempo? Não é possível responder tão delicada questão com uma simples definição: tempo é isso ou tempo é aquilo. Para chegar a uma resposta minimamente esclarecedora é preciso , com paciência, montar um quebra-cabeças , depois de encontrar e juntar as suas peças, os seus fragmentos. Este livro é uma caixinha com alguns deles.



Fala do autor no lançamento de "Tempo - Livro I" no I EREPCP - Região Norte (18/11/2020):




Resenha de Vivian de Moraes:


"As diversas faces do tempo em projeto literário inovador


Tempo – Livro I, do escritor Valdemir Pires (edição de autor, 2020, 178 pp.) é mais do que apenas um livro: é uma proposta literária inovadora, que dificilmente se insere num gênero único, ao tratar, ao longo de 52 capítulos (um para cada semana do ano), das diversas faces do tempo e de sua ação na vida humana, seja em forma de poemas, breves ensaios filosóficos ou crônicas.

O livro foi publicado em apenas em PDF. Cada capítulo foi linkado com uma arte disponível numa comunidade de leitores no Facebook (https://www.facebook.com/groups/2954200261367625), com cerca de mil participantes. A ideia é manter a interação em termos de difícil convivência social, além de potencializar a troca de ideias sobre os temas abordados em cada capítulo.

Pires recomenda uma leitura lenta, um capítulo, cada um com um fragmento artístico ou literário “comentado” literariamente, por semana. E são muitas as reflexões que se permitem ao longo da obra. Logo no ínicio do livro, no primeiro capítulo, Pires escreve:

Saiba-se ou não o que ele é, o tempo parametriza e organiza nossas vidas. Ela é compreendida e controlada a partir dele. Mas excluída sua definição como unidade de medida a partir do movimento (deslocamento no espaço), dizer o que é o tempo não é nada fácil ou simples; e tendemos a abandonar o esforço de fazê-lo se não somos obrigados a isso, se não se impõe que matemos esta charada eterna. Seguimos em frente vivendo o tempo que nos cabe, até que nossa quota termine, em algum momento incerto e não sabido. Para cada um de nós, a morte é o fim do tempo, mesmo que saibamos que existe tempo após o nosso tempo. O tempo, de fato, ignora o tempo que nos pertence, ignora-nos totalmente. O que faz do tempo algo ao mesmo tempo medonho e belo.

A partir de então, é um “desfile” das diversas faces do tempo: o que ele é; como “bate”; seus relógios; luz e escuridão; tempo e morte; mito; tempos micro, meso e macro; passado, presente e futuro; sua relatividade; tempos misturados; viagem no tempo; tempo, espaço, energia, consciência e afetos; homem e tempo; Curriculum Vitae (uma deliciosa ironia); poder; “Dinheiro é que é tempo” (bela inversão!), barulho, pandemia; valor; raízes; esperança; “humano, demasiado humano”, sonho; saudade; tessitura; tempo e máquinas; urbanidade; escolhas; tempo congelado; mudanças; alienação pelo tempo; “máscaras” do tempo; tempo e leitura; poesia; cosmologia e noções do tempo; produtividade; guerra e paz; música; “tempo juntos”; amor; mito da caverna nos tempos atuais; amizade; espera; “asas do tempo”; o seu “sendo”; o seu espírito e; finalmente, livros! (o melhor fica para o final!).

Tantos assuntos têm diferentes abordagens. Uma delas, mitológica: Pires narra a história de Cronos, deus grego dono do tempo e seu destino. “Tempo que castra e açambarca”. Outra, científica, da Física, no 13º capítulo, exemplarmente: “O tempo é relativo”. Às vezes, o escritor age como um sonhador e o objeto é “Viagem no tempo” (15º capítulo – será possível um dia?). No capítulo seguinte, arremata:

Mistérios, mistérios! Não sabemos bem sequer o que sejam espaço, tempo, energia e consciência; é insuficiente, pois, o que podemos dizer sobre a vida humana, que é isso tudo, junto e misturado, e talvez algo mais, pois essa vida não é viável, muito menos desejável, sem os afetos, que nos unem e possibilitam nossa perpetuação, enquanto espécie. Talvez seja o caso de refletir sobre a eternidade depois de entender melhor nossa perecibilidade, tornando-a menos aflitiva no interior de nosso tempo histórico.

Em seguida, uma ótima surpresa, o segundo poema do livro, “Tempo que não”:

Se “A abelha que faz o mel

Vale o tempo que não voou”*

O homem que faz o pão,

Vale a noite que não dormiu? Só?

A moça que varre o chão,

Vale o dia que não flertou? Só?

Pessoa que faz o verso,

Vale a noite que não sonhou? Só?

Estrela que já apagou,

Vale o dia em que existiu? Ou não?

A nuvem que não choveu,

Não vale a sombra que projetou?

Amor que não se declara,

Vale a dor que provocou?

A estrada nunca trilhada,

Vale a ideia de caminhar?

O tempo que não se agarra,

Vale o nada que que se tornou?

A gente, quando insiste,

Não vale pelo que tentou?

A bola que rola em busca,

Só vale se vai a gol?

(*Beto Guedes/ Ronaldo Bastos, Amor de Índio, 1978)

O amor à música e à poesia fica expresso no capítulo 39, “O tempo e o poeta”, em que Pires faz uma análise literária da letra da canção Oração ao Tempo, de Caetano Veloso. Lendo-o, um ouvinte fanático de Caetano como que “para no tempo”, para reouvir a canção com toda a sua grandeza. É um lindo capítulo e uma linda homenagem. Há também feridas expostas na obra: no nosso tempo, ora, a “necropolítica”: “nome que se dá ao uso do poder (...) visando produzir a morte, normalmente do ‘inimigo’ que é todo aquele que não concorda com os necropolíticos de plantão (...)”. Então, para tornar o discurso mais leve, Pires nos conduz à especulação do nosso Zeitgeist: como ele é? Sabemos mais ou menos bem como foi o Zeitgeist de determinadas épocas, mas e nós?

Em “Homem e tempo” (capítulo 18) podemos ter um resumo deste ótimo livro de Pires:

Somos sopros (almejando ventos), fagulhas (almejando labaredas), com a gravidade de ter consciência (incompleta, imperfeita, nem sempre acionada) da nossa própria contradição em meio ao tudo e ao nada, ao efêmero e ao eterno, ao ínfimo e ao infinito. Cheios de medos, mas também de ousadias. Somos apesar do tempo, no tempo, com o tempo.

O livro, o primeiro de uma trilogia, é distribuído pelo próprio autor. Para solicitá-lo, o interessado deve mandar uma mensagem para pires.valdemir@gmail.com."




LIVRO II

Texto da fala inicial do evento online de pré-lançamento de "Tempo - Livro II" na comunidade de leitores


Boa noite, muito agradecido pela presença de todos e todas. Agradecimento especial à Vivian de Moraes, pela ajuda nesta noite e, sobretudo, pela assessoria de imprensa competente e afetiva ao projeto “Tempo”, desde seu início.


É uma noite de “túnel do tempo”, no qual encontro amigos de velha data, que a erosão produzida pelos anos nunca levará; noite também de enraizamento de novas amizades, dos últimos anos, principalmente entre ex-alunos e ex-alunas. Momento emocionante, para mim.


É uma noite de grande alegria, pela comemoração de um ano de existência deste grupo de leitores e por estar compartilhando, pela primeira vez, o segundo resultado deste projeto: “Tempo – Livro II”, de que todos aqui receberão um exemplar em pdf (única forma de publicação). Só peço que o solicitem pelo e-mail pires.valdemir@gmail.com, para que eu não esqueça de ninguém e saiba para onde enviar para cada um. Repito o e-mail: pires.valdemir@gmail.com .


A alegria que sinto nesta noite é de um tipo incomum, pois aqui estamos para nos dedicar a algo evidentemente desprovido de importância pragmática; algo tão aparentemente inútil, bobo, que chega a beirar o desperdício de tempo.

Se assim parece (ou é, sei lá), desperdicemos, então, pois desperdiçar tempo, no mundo em que vivemos, é revolucionário, já que é prática proibida e punida com sofrimento e morte (imposta pela escassez), por aqueles que dominam e exploram o tempo alheio, o tempo da maioria dos seres humanos. Revolucionar é necessário. E revolucionar é impreciso, como viver, impreciso como o relógio e a bússola do poeta, que não o orientam, no mundo e nas relações, mais do que o amor à vida.


Se posso dizer que este projeto e estes livros com que aqui nos envolvemos têm um objetivo (talvez nem tenham, no sentido usual, pragmático, da palavra objetivo), é provável que seja o de ajudar a resgatar o tempo da falsa familiaridade quotidiana que ele carrega, refletindo sobre sua natureza e sobre sua fundamentalidade na existência humana.


Na fronteira do pensamento científico, no âmbito da Física e da Cosmologia, o tempo virou nada: por um lado, a Física da relatividade afirma que o que há, concretamente, é o espaço-tempo (não há tempo, isoladamente considerado) e que não existe um tempo objetivo no universo – o tempo é relativo, o que faz dos nossos relógios uns mentirosos; por outro lado, a Física quântica, lidando com as infinitamente pequenas partículas elementares, reduz o tempo a tão pequenos lapsos temporais que pode-se dizer que ele não chega a existir, tal como entendemos a existência: tudo é evento, nada é coisa, nem nós.

Nós, seres humanos, entretanto, não levamos a vida no universo macro, de infinitas grandezas, medidas aos bilhões e trilhões, com a ajuda da luz e da teoria da relatividade; nem a levamos no universo micro, de infinita pequenez, perseguida pelos aceleradores de partículas sob o esclarecimento da física quântica. Nós vivemos no nível meso, entre a infinita pequenez e a infinita grandeza. Nesse nível, o tempo é tão presente como nosso corpo e nossa mente, incapazes de se isolar da passagem dos dias, horas, anos. Nossa finitude inexorável, de menos de um século, nos leva a ter com o tempo uma relação quotidiana definidora do que somos.


Na Filosofia, que não se limita a refletir sobre objetividades, como acontece nas Ciências, colocando os por quês acima dos como, o tempo é abordado de forma mais humana, no que diz respeito a considerar nossas visões de mundo e da vida, aceitando a interferências de valores e incertezas. Nesse campo de conhecimento, talvez estejam na fronteira do pensamento dois filósofos que pretenderam renovar, senão reinventar, a Metafísica, coração da Filosofia: o francês Henri Bergson e o alemão Martin Heidegger.

Bergson pensa o tempo como duração. E esta, tomada como dado da mente humana: sentimos nossa duração como sendo ininterrupta, do nascimento à morte – portanto, o tempo, como vida humana, não é uma sucessão de pontos (já que entre pontos há intervalos), mas algo contínuo, retido pela nossa memória (passado) e produzido pela nossa imaginação (futuro): o que somos é lembrança e projeção (passado evocado e futuro expectado no presente que segue continuamente, tornando-se passado e adentrando novos futuros).

Heidegger, em sua abordagem fenomenológica, afirma que não devemos confundir o ser com o ente. O ente vivo e consciente, o humano, não é como os entes pedra ou flor, por exemplo: ele se projeta no futuro, ele não é pronto e acabado, ele se faz no tempo e no mundo. No humano, o tempo está embricado com o ser, assim como o tempo está imbricado com espaço, na relatividade einsteiniana – indissociavelmente.

Ciência (com seus conceitos) e Filosofia (com seu modo radical de operar, não fragmentado conceitualmente e não preso ao pragmatismo da subsistência) são caminhos para buscar o entendimento do tempo – e da vida, por extensão. Mas não bastam. A Arte, deve ser a outra trilha, com seu modo intuitivo de operar, gerando conhecimento que só é possível obter pelo ângulo do belo, dos sentimentos, do revelado, diante dos mistérios.

Aqui paro de pensar e passo a provocar, como convite para refletirmos juntos sobre o tempo. Para isso, antecipo um fragmento em versão preliminar, de “Tempo – Livro III”:


O desconhecido

 

Longe de mim, menina, querer amedrontá-la. Muito menos semear receios em tuas benquerenças e em tuas andanças. A vida é uma aventura; e o mundo, um lugar para explorar – estás certa nesse teu corajoso jeito de pensar. Já sabes que toda aventura tem seus riscos, que todo lugar esconde alguma armadilha. Então, se quiseres, nem leves em consideração o que vou dizer. Apenas permita-me falar; ouça, não será demorado.

 Esse teu inseparável companheiro, com quem andas para cima e para baixo, de dia e de noite, chova ou faça sol, esteja frio ou calor, menina, não o conheces, apesar de toda intimidade que tens com ele. E não digo que eu tudo saiba a respeito dele, mas certamente sei mais que tu, pois o tenho observado com atenção desde que me conheço por gente. Não quero usar essa vantagem (que talvez seja, na verdade, uma desvantagem) para tentar influenciar tua vida ou interferir em teus relacionamentos. Não, assim proceder é incorreto, injusto, feio. Longe de mim.

 Quero apenas que saibas que este com quem dormes, comes, bebes, compartilhas, enfim, toda a tua vida, é, de fato, muito perigoso. Já que não poderás se livrar dele, e sei que nem queres separar-te, tens que saber disso, pois do contrário sofrerás demais, à toa.

 Ele é perigoso, repito, além de traiçoeiro, muitas vezes. Sou testemunha de que já estragou a vida de outras pessoas. E mata, mata sem piedade, sem arrependimento. Faz isso e segue em frente, sem olhar para trás. E ninguém é capaz de detê-lo.

 É verdade que esse a quem não escapa nem uma sílaba do teu falar ou um curto lapso de teu pensar e, portanto, te parece tão íntimo e acolhedor, fazendo-te desejá-lo acima de qualquer coisa, também é capaz de bondades e belezas de que tanto tu como eu podemos dar testemunho. Além disso, ele sabe consolar como ninguém. E, como juiz, não há quem o iguale em capacidade para bem sentenciar.

 Tomes cuidado, menina, com o Tempo: nem eu, que o conheço faz meia dúzia de décadas, posso dizer que sou capaz de prever seu humor e seus movimentos e de lidar com ele sem surpresas, sobressaltos e reveses. Não vás, porém, tomar essa advertência como uma mosca na tua sopa. Saboreies tudo que o Tempo te oferece, seja doce, salgado, amargo, azedo, quente, frio, bonito, feio, leve, pesado... Quando ele te abandonar – e ele certamente vai abandonar-te um dia desses (eu o conheço bem quanto a esse defeito) – nem de saudade poderás mais desfrutar: será o fim, o definitivo fim.

 Vá, menina, viver! Abraça e beija o teu Tempo com toda intensidade de que fores capaz. Ele agora está para ti, mesmo estando também para os outros, sem nunca pertencer a ninguém. Pega, menina, o teu quinhão! Não permitas que o roubem de ti.


Piracicaba, 27/05/2021


Resenha de Vivian de Moraes:


"Quando um escritor amadurece: obra do tempo?


O escritor Valdemir Pires lança o segundo livro da Trilogia “Tempo” (edição de autor, 2021, 199 pp.), que é mais do que apenas a publicação de três livros: é uma proposta literária inovadora, que dificilmente se insere num gênero único, ao tratar, ao longo de 52 capítulos (um para cada semana do ano), em cada tomo, das diversas faces do tempo e de sua ação na vida humana, seja em forma de poemas, breves ensaios filosóficos ou crônicas ou contos.

Mas, voltando a falar do “Tempo - Livro II”, devemos estabelecer algumas comparações com o primeiro livro. Este era mais inspirado, pouco linear, tratava de vários temas com tons de escrita diferentes. É fácil notar, para quem leu os dois, que o “Tempo - Livro II” é muito mais uniforme e maduro. Isso não significa que ele é chato. Tratando sobretudo de maneira leve sobre temas filosóficos, ele tem grandes achados.

Um deles está no capítulo 38, “O eu e as cápsulas do tempo”. O autor começa perguntando: “O que é isto a que chamamos de eu?” Grande pergunta! Após alguns apontamentos, Pires escreve:

"O eu, exclusivamente humano, tem a ver com uma memória longa, uma capacidade de reter, ao longo de toda a vida, imagens vívidas de acontecimentos passados, como lembranças. E lembranças são cápsulas organizadas de tempo. O que nos torna singularmente humanos é a diferença que há, de um para outro de nós, entre os repositórios dessas cápsulas, a memória. Ou seja, cada indivíduo humano é, essencialmente, um conjunto cronologicamente organizado de cápsulas de tempo.

As cápsulas de tempo são feitas de passado. O presente se transforma nelas na medida em que se esvai. O futuro, por ainda não ter produzido efeito na memória, não pode ser encapsulado, devendo, primeiro, se transmutar em presente. O modo de cada um de viver o presente é afetado, por sua vez, pelas cápsulas de tempo que possui e pela maneira como as organiza. Por isso, ninguém vê ou sente um momento ou instante do mesmo jeito que outro; cada qual é um leitor de tempo com diferente aparato de captação e processamento dos fatos e acontecimentos que presencia, com distintos blocos de cápsulas de tempo."

Outros temas, como ecologia e ecologismo, tão atuais, especialmente no nosso país, também não escapam ao livro, que trata ainda de ficção científica (são dois dos capítulos mais interessantes, apesar de seu tom um tanto pessimista). Sobre a ficção científica nas artes, o capítulo é uma verdadeiro guia. O autor destaca a arte distópica, mas acenando com a Utopia (“lugar nenhum”): “Essas obras de arte carregam nas letras, luzes e cores, alertando: o momento atual não é impulsionador de sonhos, mas de pesadelos - tempos muito difíceis estão por vir. Pesadelos que são semeados durante a vigília. Precisamos acordar! E desejar, novamente, encontrar Lugar Nenhum.”

E o que dizer de “Contar histórias para ganhar tempo”? Os pensamentos de Pires fluem de maneira fácil neste capítulo, o quinto.

"Histórias que se contam e que se ouvem ou são lidas, narrativas que cativam, sem pretender outra coisa que não simplesmente cativar (embora às vezes com objetivos econômicos e políticos não explícitos, como arregimentar, vender etc. – as manipulações da publicidade e da propaganda). Quanto da condição humana não é contar, narrar, mesmo além do âmbito da arte de contar histórias, que envolve todas as artes de que somos capazes? Não seríamos nós, essencialmente, manejadores de histórias, tendo nosso tempo de vida tomado por elas, sem cessar? Não seria a duração da vida de cada um de nós (todas dignas de biografias que, entretanto, são escritas apenas para os notáveis) equiparada ao transcorrer de um conto, novela, romance, filme ou peça teatral? Ao seguir vivendo, não nos sentimos como que continuando uma história que começou assim e assim e se desenvolveu, até aqui, assim e assim?"

São muitos os temas abordados por Pires, que parece ter uma criatividade inesgotável quando o assunto é tempo. O Livro II, inclusive, antecipa o que deverá ser o Livro III, um livro de contos. No segundo, já constam cinco contos, quatro deles concentrados ao final do volume.

Os livros estão sendo publicado apenas em PDF. Cada capítulo está sendo linkado com uma arte disponível tanto numa comunidade de leitores no Facebook, com quase mil participantes, quanto no site do autor. A ideia é manter a interação em tempos de difícil convivência social, além de potencializar a troca de ideias sobre os temas abordados em cada capítulo. Pires recomenda uma leitura lenta, um capítulo, cada um com um fragmento artístico ou literário “comentado” literariamente, por semana. Mas vale também ler fora da ordem ou tudo de uma vez.

O todo do projeto (tema, textos, artes, navegações pela internet, livros em PDF, forma de aquisição, autógrafos virtuais) demonstra que ele não é um tipo de literatura “confortável”. O leitor não é passivo, ele é levado a agir, interagindo. Os assuntos sérios se tornam mais leves e o tempo, mais agradável de passar."




LIVRO III




Resenha de Vivian de Moraes:


"Escritor Valdemir Pires encerra trilogia Tempo com filosofia, arte e poesia


Toma cuidado, menina, com o Tempo: nem eu, que o conheço faz meia dúzia de décadas, posso dizer que sou capaz de prever seu humor e seus movimentos e de lidar com ele sem surpresas, sobressaltos e reveses. Não vás, porém, tomar essa advertência como uma mosca na tua sopa. Saboreia tudo que o Tempo te oferece, doce, salgado, amargo ou azedo, quente ou frio, bonito ou feio, leve ou pesado... Quando ele te abandonar – e ele certamente vai abandonar-te um dia desses (eu o conheço bem quanto a esse defeito) – nem de saudade poderás mais desfrutar: será o fim, o definitivo fim. (Primeiro capítulo).

Começado há dois anos, a trilogia Tempo se encerrou com o recente lançamento de Tempo – livro III. O autor, Valdemir Pires, optou por uma publicação de autor (180 pp.) em PDF (a trilogia custa apenas R$ 20 e pode ser adquirido por e-mail: pires.valdemir@gmail.com).

Este último livro é mais filosófico e histórico, mas também mais poético que os dois anteriores.

Mas o que é o tempo? O autor acredita que não esgotou o tema, e acredita que vai voltar a ele, em forma de um ensaio, mais científico. Mas, por enquanto, ele afirma que o tempo é...

primeiro, é uma pobre casa, sem livros e sem leitores, à Rua 6, número 31.

Depois, é uma biblioteca própria, com muitos livros, velhos e novos. Lidos e por ler.

Em seguida, é um livro sendo escrito aos poucos.

Por fim, é o um livro publicado à espera de leitores: bilhete vedado num frasco e lançado ao mar.

O tempo é como o virar de páginas, que antes precisam ser escritas; mas nem sempre são lidas.

*

O tempo é uma carta de amor de uma menina metida a sábia (para ser notada), já destruídas, ela e a carta.

É também um pacote de outras cartas de amor a uma jovem, com respostas, guardadas num baú raramente aberto.

É, hoje, a esperança de que o amor nunca pereça, em meio a posts e e-mails.

*

O tempo é uma sensação difusa de ascendências que cobram reciprocidade.

É um sentimento concentrado de descendência, em que o outro é eu mesmo em alguém.

É uma interrogação sobre de onde se vem e para onde se vai.

*

O tempo é uma porção de pequenos feitos de que poucos haverão de se lembrar.

É uma movimentação esperneante por realizações e conquistas.

É uma expectativa de que entre presente e futuro exista uma ponte, um túnel, algum tipo de ligação.

*

O tempo é um esforço para sentir que existe o que vale a pena.

É o acúmulo de fazeres quotidianos indesejados.

É também o que se faz escapando a eles.

*

O tempo é o encontro da duração singular - o ser único de cada um - com os enigmas do mundo.

É uma busca sem explicação, a ser preenchida pelo sentido que cada um termina por encontrar.

*

O tempo é. Nós tentamos ser.

A música popular está em Tempo – Livro III, com citações a Chico Buarque, Biquíni Cavadão e uma homenagem a Belchior (um poema escrito por Pires por meio de trechos de suas canções). Também tem poesia, dele (várias) e alheias:

Walt Whitman:

Aproveita o dia,

Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.

Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.

Não te deixes vencer pelo desalento.

Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.

Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.

Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.

Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.

Somos seres humanos cheios de paixão.

A vida é deserto e oásis.

Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.

Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.

Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.

Não caias no pior dos erros: o silêncio.

A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.

Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.

Não atraiçoes tuas crenças.

Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.

Isso transforma a vida em um inferno.

Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.

Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.

Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.

Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que [nos precederam.

Não permitas que a vida se passe sem teres vivido…

Há também outras referências literárias. Cervantes, Jorge Luis Borges, Baudelaire, Raduan Nassar etc., sobre as quais ele discorre como citações que embasem pontos de reflexão sobre a passagem do tempo.

Pires escreveu um conto para esse livro, bastante inspirado, com o nome de “O tempo, a pedra, a flor, o gato e eu”, em que o narrador em primeira pessoa conversa com as personagens da natureza, começando pela pedra.

As reflexões sobre o tempo são variadas, e, muitas vezes, o autor mergulha em fontes científicas ou pensamentos de quem já pensou e repensou o assunto, mais para lançar perguntas ao leitor do que a lhe apresentar respostas, como Einstein, Jorge Luis Borges, Pierre-Simon Laplace, Santo Agostinho, Immanuel Kant, Isaac Newton e Ludwig Eduard Boltzmann, entre outros. Ele pensa o Renascimento, a Guerra Fria, o liberalismo econômico da Revolução Industrial até os dias atuais, o papel dos professores (ele é um acadêmico da área de Economia), como sentimos ou percebemos a passagem do tempo, a nossa paciência ou impaciência com ele, a sabedoria ao ter de se conviver com um tempo sequestrado pelo mercado de trabalho e por uma rotina de lazer que, ao invés de melhorar a qualidade de vida, nos mantém num sistema aprisionante que não é diferente do laboral, por sua pobreza de arte autenticamente vivida nesses momentos; enfim, Pires faz dos 52 capítulos do seu Tempo – Livro III uma opção para quem se preocupa ou pelo menos reflete sobre essas questões. Afinal, o tempo é para ser vivido!

E diz: Segundo a teoria da relatividade, o tempo existe materialmente, juntamente com o espaço. O tempo não é um juízo a priori kantiano, não é a simples medida do movimento aristotélica, não é a imagem da eternidade platônica, muito menos o agostiniano mistério divino. Ele é parte de um mundo que não vemos, mas é real, substancial. E a dificuldade para vê-lo surge do fato de ser quadrimensional, enquanto nossa percepção chega apenas ao tridimensional.

Há também, é claro, a obsessão pela eternidade, ou pelo menos pela longevidade máxima. Que se consiga avançar, no futuro, para uma 5ª. idade, a dos três dígitos de anos vividos, parece pouco provável e ainda menos desejável. Não seria melhor viver menos, com mais qualidade? E, nesse tocante, adoecida uma pessoa, todos os cuidados jurídicos e médicos tomados, deveria ter direito à eutanásia? Um tema relevante e polêmico.

Música, cinema, fotografia, tudo é assunto para Tempo – Livro III, assim como para toda a trilogia."





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