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  • Foto do escritorValdemir Pires

O tempo: ensaio sobre a origem



Sobre O tempo: Ensaio sobre a origem, de Pierre BOUTANG, trad. de Maria Helena Kühner (Rio de Janeiro: DIFEL, 2000, 126 p.)

 

            Este livro é um belo ensaio sobre a “origem – e sobre a temporalidade, da qual ela é indissociável...” (p. 121) Defende, numa perspectiva cristã, o criacionismo, contra o evolucionismo. O autor passeia por algumas escolas filosóficas com erudição e desenvoltura (nem sempre fácil de serem acompanhadas pelo leitor comum), com especial atenção para Santo Agostinho e Kant e para confronto entre fé/religião/Igreja e ciência/Iluminismo na Idade Moderna, considerando-se especialmente Newton, Leibniz e Descartes, em suas divergências e convergências. A abordagem se prende a aspectos teológicos, científicos e filosóficos complexos, em que a fidelidade ou não à fé é objeto de análise.

            O tempo existe ou é simplesmente uma ideia na alma (espírito, mente)? O que existia antes do surgimento (ou criação) do universo, se o tempo apareceu juntamente com todas as outras coisas? Como entender a problemática do pecado original e da vinda de um salvador para a remissão no contexto de uma noção de Gênesis (começo do tempo) e Apocalipse (fim do tempo) em diálogo com a eternidade? Essas e outras pergunta são respondidas a partir de uma ótica católica claramente conservadora, que se ressente dos excessos da razão e da prepotência da afirmação da morte de Deus.

            O vigor argumentativo, notável ao longo de toda a leitura, deriva não só da convicção religiosa do autor, mas também da sua habilidade reflexiva, que se move retomando várias discussões caras ao pensamento ocidental (na sua trajetória que vai do mito à razão como fundamentos do saber), considerando-se inclusive aspectos etimológicos envolvidos.

            Concordando com Boutang ou dele discordando, seu O tempo: Ensaio sobre a origem merece a devida atenção, especialmente em um momento em que a divergência entre fé e ciência está se aprofundando, com a um tipo vulgar e raso de religiosidade levando vantagem e originando problemas políticos e ideológicos de grande monta e consequências insondáveis.

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