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Escola de governo na era digital

Foto do escritor: Valdemir PiresValdemir Pires


Faz tempo que a escola deixou de fazer sentido (substancialmente e não formalmente) como o lugar onde se aprende, pois, primeiro, aprende-se em qualquer lugar e, segundo, a transmissão do conhecimento migrou (potencialmente) do formato oral para o  escrito, os livros (físicos ou digitais) viabilizando transmissão e aquisição de conhecimento sem outra mediação, autor e leitor bastando-se. Não é à toa que no século passado havia cursos por correspondência e, hoje, ganha espaço a educação à distância (EaD). A era digital do conhecimento, do ensino e do aprendizado atinge, evidentemente, qualquer escola, em qualquer nível (após a alfabetização e um mínimo de preparo), não lhe escapando as escolas de governo.

               Para que, então, serve a escola e, por extensão, uma escola de governo? Muito se poderia discutir a respeito, mas três funções importantes justificam a existência da escola (inclusive a de governo): sanar uma debilidade, viabilizar acesso e organizar o aprendizado.

               A debilidade que uma escola de governo ajuda a enfrentar é a que se origina do fato de os indivíduos médios (a maioria das pessoas) não ser autodidata. A iniciativa (mais do que motivação) e a capacidade organizativa para aprender por si só, principalmente com objetivos não imediatos, são competências e/ou traços de personalidade um tanto raros, ainda. Então, a escola, como locus, acolhe alunos (condição formal) com a finalidade de torná-los estudantes (condição substancial). Entendendo-se, aqui, estudante como aquele que estuda (em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias), e aluno como aquele estudante cujo estudo terá que, necessariamente ser mediado por professores (mediadores de processos de ensino-aprendizado, mais do que fornecedores de conteúdos).

               Mesmo que não funcione mais como, essencialmente, espaço físico em que “conhecedores” ensinam os que precisam e/ou desejam aprender, porque existem os livros, a escola segue viabilizando o acesso organizado (e também certificado, graças à sua função avaliativa) do conhecimento “ministrado”, mediado, principalmente quando a mediação é presencial. Desde que dispondo de biblioteca (física ou digital) especializada, a escola de governo também funciona como porta de entrada para o saber. Além disso, a escola deve primar por funcionar como espaço de debate e reflexão grupal, de integração entre inteligências individuais em diálogo – função que os livros nunca ameaçaram.

               Por fim, a escola de governo deve ser uma organizadora de aprendizados, identificando os conhecimentos relevantes (e até candentes) em cada momento, organizando o projetos e relações pedagógicas, viabilizando atividades propiciadoras de crescimento intelectual, de desenvolvimento cognitivo e de habilidades e atitudes desejadas, avaliando seus resultados e o desempenho dos envolvidos.

               Que a existência da escola de governo seja um sinal de que o ente que a acolhe tem por objetivo ser uma organização aprendente para, com isso, atuar com o máximo de competência e desempenho possível, isto é uma decorrência elementar. Mas claro, trata-se de um sinal que tanto pode ser forte, como fraco, a depender do quanto a existência da escola de governo esteja enraizada no quotidiano de seus alunos e potenciais alunos. Este enraizamento, por sua vez, não pode prescindir de incentivos, uma vez que, infelizmente, a aquisição de conhecimento ainda não é vista como suficiente recompensa pelo esforço de estudar, que exige tempo, dedicação e talento.

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