Sobre Concreto armado ou A imanente liberdade dos pardais, de Tadeu MARCATO (Araraquara: Poesofia Crônica, 2023, 99 p.).
O muro, real, concreto, imóvel, resiste; o pardal, asas pra que te quero, persiste, céu acima, céu abaixo – caga no muro. Poeta-pardal, este Tadeu. Chega pro concreto armado e comanda: – Mãos ao alto!
Concreto armado é poesia pura, dura, cheia, completa. Palavras lançadas sobre o papel branco, como a tinta do artista, depois trabalhada com o pincel dos sentimentos, fugidios na sua difícil compreensibilidade. Da “asperidade” (p.13) à “polidez” (p.99), como se, ao longo, a pedra fosse sendo desbastada até revelar o seu oculto brilho.
Mas a pedra é polida de fora para dentro. Ao contrário dos sentimentos, nas mãos do poeta: nele a luz só aparece numa luta de dentro para fora e de fora para dentro – o muro no caminho, suas pedras falsamente regulares. Luta – poeta-guerreiro: Tadeu, diante da “manhã transbordando de nada”, enquanto “um coração escorre lentamente pelo ralo” (p.15) e “a moça do google (...) pergunta em que pode ajudar” (p. 17). O poeta tergiversa: “sinto algo que não nomeio” (p.19) e lhe mete uma “facada na retina" (p.21) de cristal líquido – “tentativa de alcançar a linha de outro tempo” (p. 25).
Por quê? – pergunto, enquanto “viaturas contornam a esquina em alta ferocidade”.
Vem a resposta, seca:
“roubaram
o horizonte
a utopia
a poesia” (p.54)
“AQUI NÃO CABEM VERSOS” (p. 56)
“borboletas sem asas
Arrastam-se
no asfalto
à procura do casulo” (p. 61)
Mas “a bituca insiste em não morrer no cinzeiro” (71) – Tadeu-bituca-chama(professor) que conclama: À vida, molecada!
“a abstinência
é invenção
é criar
todo dia
a saída do labirinto
em diálogo
com o minotauro” (p.83)
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