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Cidades visíveis - Kuwait

  • Foto do escritor: Valdemir Pires
    Valdemir Pires
  • 21 de abr.
  • 4 min de leitura



A cidade do Kuwait, capital do país de mesmo nome no Golfo Pérsico, é parte de um conjunto de áreas urbanas futurísticas resultantes de um surto de investimentos imobiliários realizados pelos beneficiários dos ganhos obtidos com petróleo nos países árabes, depois de suas independências e com a valorização do preço do barril desde a criação da Opep. Tais investimentos, muitos deles governamentais, a que vieram se associar também recursos de outros países, visaram valorizar os vultuosos capitais acumulados e que antes se encaminhavam para outras aplicações, em outros locais.

 


Assim como a cidade do Kuwait, Manama, Doha, Abu Dhabi e Riad, juntamente com Dubai (que não é capital), são exemplos de uma escola urbanística e de um tipo de arquitetura que transforma radicalmente a feição dos assentamentos e dos edifícios, imprimindo-lhes uma feição futurística (como acontece também em muitos locais na China atual), graças a elementos como excessiva verticalização, ousados formatos e mecanismos, utilização massiva de aços e vidros espelhados, que demandam densamente engenharia/projeto e criatividade/design de altíssimo custo, não raro oferecidos por empresas e talentos globalmente reconhecidos. Além de elevados, os custos, em todos esses casos, se concentraram no tempo, dada a pressa modernizadora das experiências, o que resultou, sempre, na mobilização de contingentes de mão-de-obra e materiais em volumes estratosféricos, que somente dinheiro jorrando de poços de petróleo incessantes podem bancar, ali no Oriente Médio.

 


Paraíso das compras e do consumo, de todo tipo. Isso é a cidade do Kuwait. Disso é prova o Avenues Mall, cuja imponência chega a ser assustadora, por conta de suas dimensões, da variedade sem fim das ofertas e do luxo explícito que ali reina (às vezes escorregando no mal gosto, pelo exagero). As mais refinadas e famosas marcas se fazem representar, de moda a automóveis, relógios a perfumes, eletrônicos, bebidas e alimentos. Sem abandono da tradição, permanecem funcionando, em edifícios restaurados com requinte, os famosos souqs, onde se pode adquirir carnes, grãos, frutas, verduras, especiarias, doces, pães, roupas,  utensílios domésticos, bugigangas em geral etc. – são o genuíno mercadão ou feira árabe, para onde tudo que é produzido acaba indo, em busca de escoamento rápido. O mercado de peixes e frutos do mar dá a impressão de ser mais sortido que o próprio oceano, tudo fresquinho, sobre balcões de pedra bem asseados (tanto quanto possível).

 


Feita para ser vista, a cidade do Kuwait não aceita ser coberta pela escuridão da noite. Suas ruas, praças e avenidas são fortemente iluminadas, os postes alimentados por energia que corre por fios subterrâneos, para não macular a beleza do espaço aéreo, que precisa ficar livre para que as vistas se deliciem com o vestuário de luzes coloridas que adornam os belos edifícios depois do pôr do sol (este, espetacular, por seu turno, embelezando as águas e todo o entorno, além dos vidros espelhados que estão nos edifícios por todo lado).



Para que seja vista de cima, panoramicamente, a cidade conta com as Kuwait Towers (preciosas peças arquitetônicas), uma das quais gira para que o observador possa apreciar todo o território.

 


Tudo faz parecer que a intenção de quem “mandou fazer” a cidade foi transmitir uma mensagem sem margem a dúvidas: “Nós podemos!”. Quem conhece um pouco da história de dominação (ocidental, no período mais recente, britânica, sobretudo) que por séculos limitou os povos daquele pedaço do mundo, imagina que isso aconteça por autoafirmação. Por ameaça não é, porque o alinhamento relativamente subordinado aos Estados Unidos, por ali, é patente.  Não fosse isso, a destruição do Kuwait pelo Iraque de Saddam Hussein, que foi imensa, talvez tivesse sido total, na sangrenta Guerra do Golfo dos anos 1990.

 


Há, ainda talvez por conta de uma tentativa de sedução de turistas (setor econômico que o governo se esforça para aglutinar aos que podem garantir desenvolvimento após o fim das reservas de petróleo), espaços públicos convidativos, como, por exemplo, o Al Shareed Park, parte do Kuwait National Cultural District (KNCD), que contempla também museus e instalações artísticas. Não se trata de nenhum Central Park novaiorquino, mas para uma região desértica (cujas temperaturas podem atingir 50 graus centígrados), é um grande feito. Por força de um amplo e complexo sistema de irrigação permanente, a área conta com numerosas espécies de árvores e flores, sempre vivas e coloridas, em meio às quais espelhos d´águas e fontes despontam diante de quem caminha ou pedala por ali, tendo à vista, adiante, os elevados edifícios dos centros financeiro, administrativo e comercial vibrantes.

 


Arrojo (inclusive tecnológico) e bem-estar individual, em diálogo com o futuro, proporcionados por um ambiente urbano singular, ao mesmo tempo regional (árabe, islâmico) e global (multicultural em diálogo com a cultura contemporânea), onde não falta a gastronomia típica do local, nem a internacional – esta a combinação que o Kuwait parece estar configurando para se tornar (como está se tornando) um destino turístico importante. Para poucos, no que tange ao pleno aproveitamento do que é oferecido, pois muito há que não cabe no bolso dos turistas medianos, que lotam aeronaves conduzidos por agências especializadas e despencam às dezenas nos destinos da vez, tendo que decidir, dada a escassez de dinheiro, se vai ao restaurante típico (lendo as linhas do cardápio da direita para a esquerda) ou visitará o museu.

 


Sobre mesquitas lindamente construídas e decoradas, a ponto de o viajante perguntar como é possível ao ser humano construir algo ao mesmo tempo tão delicado e poderoso, nada é preciso dizer, a não ser: “Vá e veja com seus próprios olhos!”. E isso vale para todos os países da península arábica, em bora em alguns, o patamar atinja níveis tão elevados que o convite passa a ser: “Vá, veja com seus próprios olhos, e ainda assim, como Tomé, continue duvidando que Maomé pôde levar as gentes a tanto.”



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