
Querido Alberto, desejo-lhe eterna juventude. E digo que ela é possível: na alma. Conheço tristes e entristecedores jovens-anciãos e conheço alegres e contagiantes idosos-meninos. Você não conhece?
Por que lhe desejo esta fabulosa qualidade – eterna juventude? Porque sem ela desaparecem as inquietações e, juntamente, os sonhos e desejos, principalmente os menos imediatos, como a utopia de melhores governos e de boa sociedade. O tempo vai nos empurrando, a cada dia, para o “nosso cantinho”; vai nos reduzindo a seres passivos e resignados. A não ser que, conscientemente, lutemos contra a tendência.
Como tem me relatado, você vive numa montanha russa, em que se alternam surtos de euforia e de desânimo, como se fosse uma pessoa bipolar, carecendo de tratamento psiquiátrico. Olhe, se você não insistisse em agir e em fazer sempre o melhor que pode, poderia ficar mais tranquilo e economizar a grana que divã pode sugar... Mas não é o que eu faria, muito menos o que eu aconselho você a fazer. São os sonhadores e inquietos que mudam o mundo e que, ao fazê-lo, vivem a vida de verdade. Sofrem, claro, mas também colhem alegrias e, no balanço final, são os verdadeiramente felizes, além de propiciadores da felicidade alheia.
Quando você ocupou um cargo concursado, viu-se limitado, constrangido. Por diversas vezes, suas tentativas de inovação esbarraram num severo: “Isto não é de sua competência”. E não era, mesmo. O servidor público de carreira tem que se dedicar à sua estrita função, não pode desviar dela, por imposição da chefia ou iniciativa própria. Claro que há certa margem de manobra, no campo das sugestões e dicas, mas sua utilização depende do ambiente de trabalho e das pessoas ao redor. Um dia lhe conto o desastre que foi uma tentativa minha, de mudança de procedimentos, num cargo de escrevente que ocupei num fórum do interior paulista, na minha juventude; e também a decepção que tive ao sugerir melhorias num tipo de cálculo de benefício trabalhista, quando fui agente administrativo numa universidade pública, também paulista.
Você agora está num cargo de livre nomeação, a convite de um prefeito que conquistou seu respeito e admiração. Mas mesmo nesta posição, continua na montanha russa. Isso quer dizer que esta engenhoca psicológica está tem todo lugar. Entretanto, parece mais satisfeito: tem uma fatia maior de poder, tanto formal, quanto de fato. Percebe que, como auxiliar direto dos decisores de última instância (os políticos eleitos) você participa do projeto arquitetônico, em vez de assentar os tijolos ou fixar as janelas?
Agora, Alberto, eu preciso lhe perguntar: por que você não segue o caminho que trilharam o Rômulo e o André? Eles decidiram ser prefeitos – e conseguiram – depois de concluir a graduação em Administração Pública. O Rômulo foi cursar Administração Pública já percebendo a formação superior como passo para chegar a prefeito – foi em busca da vara de pescar para se tornar pescador; o André, por seu turno, descobriu a vocação política enquanto cursava Administração Pública pensando em fazer carreira de gestor no governo federal – pensava em pescar lambari, acabou se engajando na caça de tubarão...
Eu sei que responder esta pergunta não é fácil. Embora lidem com as mesmas problemáticas – a decisão e as escolhas coletivas – o administrador público (de carreira ou em cargo de confiança) e o político (eleito) movem-se em mundos muito diferentes. Uma coisa é adentrar a “máquina pública” submetendo-se a provas de competências de habilidades técnicas (concursos) ou conquistando a confiança de um governante (nomeação como auxiliar tecnopolítico); outra é ingressar no governo por meio de escolha dos cidadãos-eleitores-contribuintes, submeter-se às eleições. Cada um desses mundos diz respeito a diferentes vocações, não é mesmo?
Portanto, quando lhe pergunto por que você não se lança candidato a prefeito, por exemplo, como fizeram Rômulo e André, eu estou lhe perguntando, efetivamente: o que o impede de buscar um lugar onde possa se realizar plenamente naquilo que parece – a mim sempre pareceu – ser a sua vocação: a política? Você tem qualidades excepcionais para isso. Enquanto você passa seus dias lutando para implementar ideias valiosas para que existam melhores governos, num país que muito precisa deles, você nota que estão por aí afora milhares e milhares de oportunistas, assim como muita gente com boa-vontade (mas só isso, faltando capacidade), todos com menos possibilidades de realizar do que você. Sua contribuição pode fazer muita diferença.
Na dúvida, você, tão jovem ainda, pode experimentar um cargo legislativo – vereador. A vereança como porta de entrada. Na sequência, de repente decide que quer mesmo estar no Poder Executivo, e então vai para a disputa; ou envereda para os legislativos superiores: deputado (estadual ou federal).
Nada disso lhe é impossível. Mas, claro, se quiser mudar de patamar decisório e a natureza dos fazeres a que se dedica na administração pública, precisará se movimentar em outros âmbitos: partidos, coligações, aprovação de candidatura, disputa eleitoral etc. Você estará se arvorando a ser representante de uma parcela da sociedade, tendo que conquistar a confiança dela para chegar a tanto. “Tem estômago para isso?”, haverão de lhe perguntar. Como certa vez disse Bismark, o unificador da Alemanha, fazer política e fabricar salsichas têm em comum certas características que exigem um tipo específico de resistência psicológica. Você está ou pode vir a estar à altura?
Digamos que esteja. A que fração (parcela, parte – partido) da sociedade pretende servir? Existe um partido a que possa se filiar, que tem um programa e práticas que sirvam a esta finalidade? Se não existir – como tantas vezes acontece – imagina um modo de servir a quem pretende, para isso driblando o obstáculo de estar em um partido inadequado para a finalidade que se coloca?
Não pense, caro Alberto, que ao “mudar de ramo” fugirá à mencionada e desagradável montanha russa. De fato, na política ela tem picos mais altos e vales mais fundos que na seara político-administrativa em que você se encontra. Veja aí em que brinquedo você deseja se aventurar no parque de diversões... que tem também um quê de circo, com mágicos (ilusionistas) e palhaços... Não digo isso, não uso essas metáforas do entretenimento, para desmotivá-lo, perceba. Mas para convidá-lo a ir sempre em frente, cada vez mais fundo, sem medo, com capacidade de antever, para não se assustar nem se frustrar a ponto de desistir. Em frente! Enfrente. Voe! Voe por todo o mar, mas volte ali... pro seu peito, para aquilo que você decidiu ser (ainda quer possa mudar) no espetáculo do mundo.
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