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  • Foto do escritorValdemir Pires

Attossegundo


Para Sérgio Marcus Pinto Lopes


A História é o registro racional da trajetória humana ao longo do tempo, não à toa sendo o surgimento da escrita (por volta de 4.000 a.C.) considerado o seu início. Essa trajetória de pouco mais de seis mil anos é um balaio de peripécias que os estudos tentam organizar com base nos mais variados critérios, a fim de entender e explicar este ser inventivo, controverso e mutante que é o homem. No fundo, no fundo, entretanto, esse entendimento está longe de ser satisfatoriamente obtido.


É tão difícil saber o que é o homem quanto o que é a luz. Quem pode definir um e outra? Tente e diga: “O homem é...” ou “A luz é...”. Pode até usar metáforas e gestos. Tente... No máximo se consegue alguma aproximação, recorrendo a aspectos parciais e comparativos, dominados pela consciência e codificados pela linguagem.


E a duração do tempo (este outro mistério), qual a máxima e qual a mínima? Bem, diante do desafio que é responder esta pergunta, definir homem e conceituar luz parece até coisa à toa...


Que fique para lá, longe, suficientemente distante da inteligência, a informação sobre a duração máxima do tempo, certamente relacionada, simultaneamente, ao início (desconhecido) e ao fim (ainda não atingido) do universo... Resta inquirir sobre a duração mínima do tempo.


A melhor resposta até agora é a da física quântica, que aceita o tempo de Planck como o menor intervalo temporal concebível. Ele se define como t p = ℏ ⋅ G c 5, que corresponde ao tempo que demora para a luz percorrer o comprimento de Planck . ℏ ⋅ c = ( k g m 2 s ) ⋅ ( m s ) = ( k g m 3 s 2 ). Hahahaha. Isso mede 1,6 x 10¯³⁵ metros, ou seja, 0,000000000000000000000000000000000016 metros – cerca de um bilionésimo de um bilionésimo de um bilionésimo de metro.


Agora imagine quanto tempo leva para (e o tamanho do corpúsculo que pode) percorrer este intervalo espacial, que é quase nada (ou até menos, hahaha). Trata-se, claro, de um tempo tão infinitesimal, este tempo de Planck, que foge a qualquer tipo de percepção material que a mente humana possa desenvolver para entendê-lo. É o nada de tempo que se leva para percorrer o nada de espaço... Nada disso pode ser captado pelo senso comum ou pelo modo convencional de se pensar a vida e o mundo.


E agora, acaba de ser dado o Prêmio Nobel para três cientistas (Pierre Agostini, Anne L'Huillier and Ferenc Krausz) por terem conseguido gerar pulsos de luz tão curtos que são medidos em attossegundos. Attossegundos, isso mesmo!


Que diabo é isso? É um quintilionésimo de segundo. O quanto um attossegundo corresponde, proporcionalmente, a um segundo é o mesmo que um segundo representa, proporcionalmente, em relação à idade do Universo. É a migalha, da migalha, da migalha, da migalha, da migalha, da migalha, da migalha... cronológica.


E os cientistas laureados conseguiram gerar pulsos dessa magnitude, ou seja, produziram um tipo de “motor de relógio” que, em tese, pode ser mais preciso que o atual relógio atômico, cujo atraso é de menos de um segundo a cada um milhão de anos. É um troço inconcebível. Com um contador de tempo tão potente, é possível, segundo os cientistas, estudar como os elétrons se comportam. Ou seja, é possível investigar a natureza de dentro de suas menores partículas constitutivas.


Diante de um fato como este, no mundo da ciência, talvez se possa definir o homem como sendo, essencialmente, o ser que, ainda desconhecendo o que seja o tempo, cedo se tornou capaz de medi-lo e o faz, desde a invenção do calendário e do relógio até os dias atuais, reduzindo cada vez mais a unidade de medida. O resto que contribui para defini-lo, é coisa pouca, ligada à luta pela sobrevivência diante da escassez, dos jogos de poder, da necessidade de afeto e das dúvidas sobre si e sobre o mundo, não só “o mundo que o rodeia”, mas também o que faz sua mente rodopiar.


Quanto à luz, por sua vez, com sua velocidade constante, que torna espaço e tempo relativos em todos os cálculos científicos pós-Einstein, quiçá possa ser definida como o a face visível de um fenômeno espaço-temporal cuja rapidez, se medida em attossegundos se expressaria por: 299.792.458 m/s x 1 000 000 000 000 000 000.

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