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  • Foto do escritorValdemir Pires

Ana Cañas reencanta Belchior



Sobre o show Ana Cañas Canta Belchior - Ao vivo em Sobral, Arco de Nossa Senhora de Fátima, 23/07/2023 (https://www.youtube.com/watch?v=SWY0Kp2u3Ts )

 

            Ana Cañas reencanta Belchior com seu jeito peculiar de interpretar as canções do cantor e compositor sobralense. Nisso faz juz ao encantado poeta da música popular brasileira que, como é sabido, tinha o seu modo incomum de cantar: cantando como quem conta uma história.

            É um feliz encontro, este, da paulista com o cearense, pois ambos têm características poéticas semelhantes, embora presenças de palco muito distintas. Enquanto ele se posicionava defronte ao microfone quase imóvel, ela é pura agitação no palco, o tempo todo. Mas a força da performance de ambos, na entrega da música e da poesia ao público, é a mesma: pedra que sangra e, ao sangrar, desabrocha em flor, como se assim “o mal que a força sempre faz” pudesse ser suspenso (ao menos por uns instantes) com a certeza de quem diz, acreditando, que “amar e mudar as coisas me interessa mais”.

            Os arranjos de que se serve Ana Cañas para interpretar Belchior a seu modo levam o público a dançar com ela, substituindo-a na voz em algumas passagens conhecidas das canções. Com Belchior era diferente, pois o circunspecto “rapaz latino americano” induzia o público a uma postura quase reflexiva, inspirada também pelo seu nietzschiano bigode.

            Ana Cañas é pura entrega: ao espírito do poeta, aos ritmos e acordes, ao público (“Eu sou como você que me ouve agora”), à arte como veículo da transcendência. É de uma simplicidade e de uma ingenuidade quase infantis, convidativas a ponto de dar medo: medo de que a qualquer momento essas qualidades desapareçam sob o peso da caminhada e sob as ameaças da selva que é o complicado mundo da competição e da comercialização da arte.

            É notória a alegria com que a cantora mergulha no dia-a-dia de seus incontáveis shows presenciais pelo Brasil afora, como quem leva, a cada lugar aonde vai, uma tocha (uma obra) cujo brilho não corria o risco de apagar, mas que perderia a oportunidade de iluminar tantos corações, não fosse esta felina portadora.

            Viva Belchior! Bravo, Ana Canãs!

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