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Cidades visíveis - Mascate

  • Foto do escritor: Valdemir Pires
    Valdemir Pires
  • 19 de abr.
  • 3 min de leitura


Omã e Iêmen são vizinhos, o primeiro ocupando o extremo leste da Península Arábica, na direção do Irã; enquanto o segundo fica com o extremo sul da mesma península, na direção da África. Passar do Iêmen ao Omã assemelha-se a deixar o Inferno e ingressar no Paraíso. Enquanto o Iêmen é assolado por uma guerra civil que dura há mais de uma década, com a intolerância e a letalidade galgando patamares alarmantes, o Omã vive uma tranquilidade que praticamente se “sente no ar”, pacifista a ponto de ser chamado de “velha avó”, pela natureza benigna/pacificadora de sua diplomacia. Vovozinha esta que talvez descenda de Jó, cujo túmulo dizem se localizar em Salalá, ao sul, na província de Dofar.


O segundo flagrante imediato no Omã diz respeito à diferença entre a arquitetura de sua capital (Mascate) e a que se vê em Doha/Catar (e também em Manama/Barein, Riad/Arábia Saudita,  Dubai e Abu Dhabi/Emirados Árabes e Cidade do Kuwait): as edificações da capital omane seguem um partido arquitetônico focado na tradição árabe, em vez de embarcar no futurismo dos arranhas-céus em aço e vidro que se disseminou no mundo árabe enriquecido pelo petróleo.

 


O apego à tradição não se limita às áreas urbanas do Omã. Nas montanhas, que ocupam vastas áreas do território, encontram-se os falajs, que são engenhosos canais de águas para irrigação (num país que não conta com rios), construídos e mantidos manualmente pelos usuários, aproveitando o efeito da gravidade. A relação dos habitantes das montanhas com esse complexo e belo sistema de abastecimento hídrico é, como a de filhos com a Mãe, de cuidado incessante, de respeito e de bem-querer.

 


O cultivo de tâmaras é uma atividade muito zelosa, nas montanhas Hajar, assim como a produção do famoso incenso de Dhofar (olíbano), um dos orgulhos do país. O olfato é talvez o sentido por excelência na mentalidade dos habitantes do Omã (sessenta por cento dos quais são locais, uma proporção bem maior do que na maioria dos países árabes), a ponto de ser produzido ali, desde 1983, a pedido do Sultão Qabus, um dos mais delicados (e caros) perfumes do mundo: o amouage.

 


Não deixa de ser um tanto incômodo, para ocidentais, o fato de que, em todo o país, Sultão Qabus sejam um título e um nome onipresentes. Tudo, no Omã, quando não foi feito pelo Sultão Qabus, é do Sultão Qabus (ou foi feito a pedido dele, como o citado amouage). Trata-se de Qabus bin Said al Said (1940-2020), que após depor o pai, reinou por cinco décadas, dando forma ao que hoje é o Omã, construindo infraestruturas, promovendo a educação, garantindo saúde pública, com o dinheiro do petróleo. Dentre tudo o que é do Sultão Qabus, destaca-se a sua Mesquita (em Mascate), uma obra monumental que rivaliza com qualquer outra da mesma natureza, batendo em beleza e hostentação muitas catedrais do Ocidente: abriga 20.000 pessoas, sua construção consumiu 300 mil toneladas de arenito e conta com um tapete que pesa 20.000 quilos.

 


As corridas de camelo são um divertimento nacional que iguala o Omã a outros países árabes, enquanto em nenhum deles se encontra a estranhíssima figura dos khanit: homens dedicados ao homossexualismo (em locais isolados, à noite), que são considerados (parece que para driblar os dogmas do islã) um terceiro gênero, além de masculino e feminino. Sem que se esqueça que homossexualismo, no país, é ilegal e severamente punido.

 

Numa área do globo terrestre marcada por golfos, estreitos e o Canal de Suez, o Omã tem um estreito para chamar de seu (embora dividindo-o com os Emirados Árabes e o país do outro lado): o Estreito de Hormuz, entre o extremo norte de seu território (que é um enclave no território dos Emirados Árabes) e a massa continental do Irã. Trata-se, como é de se esperar, de um ponto geográfico de alto valor estratégico (e grande fama histórica), pois liga o rico Golfo Pérsico ao Golfo de Omã, de onde as navegações vão em direção ao Mar Vermelho (com o Canal de Suez na altura do Egito), a oeste, e rumo Oceano Índico.

 

Mascate: a capital, centro de poder de um dos últimos sultanatos (que já dura 250 anos) ainda existentes (o outro é o de Brunei). Sustentada pela renda do petróleo (30% da economia), busca, como todos os países dependentes do ouro negro (que vai se esgotar), uma diversificação econômica, que passa pelo turismo e pelas finanças globais. Tem atraído investimentos estrangeiros desde os anos 2000, assim como imigrantes (40% da população do Omã), principalmente indianos e chineses, excluídos dos direitos à saúde e educação gratuitas.


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