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Cidades visíveis - Manama

  • Foto do escritor: Valdemir Pires
    Valdemir Pires
  • 20 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 20 de abr.



Entre a costa leste da Arábia Saudita e a península catariana há trinta e poucas ilhas desérticas, três delas habitadas – mais do que um arquipélago, elas formam um país com pouco mais de um milhão e meio de habitantes: o Barein, rico em petróleo (descoberto em 1932), antigo protetorado britânico (tendo pertencido antes a Portugal, entre 1521 e 1602), independente desde 1971, governado pela família Al Khalifa desde o século XVIII. Sua capital é Manama, hoje um centro financeiro e região turística de nível global, que depois de um surto imobiliário, em quase nada lembra os tempos em que a economia local se baseava na coleta e comercialização das então consideradas as melhores pérolas do mundo.

 


Caminhar por Manama, mesmo por poucas horas, permite perceber que ela é uma cidade árabe, porém multicultural, onde o islã não chega a impregnar o ar que se respira. Talvez seja correto dizer que ali a onipresença do Profeta é inferior à dos poderosos membros da família Al Khalifa, cujas faces fotografadas ou pintadas “enfeitam” numerosos locais. Também as mesquitas disputam espaço com edifícios em cujo interior (e cujas fachadas anunciam) as atividades comerciais e culturais não são somente as permitidas pelas regras do Livro.

 


Como outras cidades da península arábica enriquecida pelos negócios petrolíferos, Manama também ostenta uma fachada urbana característica: um futurismo arquitetônico vertical de formas ousadas, brilhante (graças ao uso do vidro) e coloridamente iluminado à noite. Isso sem eliminar áreas típicas do passado recente, com ruelas e casario típicos do modo árabe de edificar e adornar fachadas, portas, janelas e telhados.

 


Um ocidental médio típico sente, em Manama, uma economia que empurra para o alto e uma política que ata ao chão, com risco de queda no precipício. O desenvolvimento é notório, mas é difícil afastar a sensação de que se sustenta com dinheiro que sai dos bolsos de poucos donos (centralmente, uma família) e para ele retorna turbinado, enquanto os pobres, entre poucos locais e uma grande massa imigrante, lutam para sobreviver, alguns morando até em pequenos containers.

 


O gosto pelo automobilismo é arraigado, culminando na construção do Circuito Internacional de Fórmula 1 do Barein, em 2002. Nas ruas o trânsito não raro intenso coloca em disputa numerosos veículos de luxo e inumeráveis motocicletas conduzidas por entregadores de encomendas. As vias são de ótima qualidade, bem construídas e bem sinalizadas, mas ônibus urbanos são raros, tornando difícil o deslocamento dos pedestres.

 


Uma das coisas que mais chama a atenção em Manama está fora dela; ou melhor, na ligação entre ela e a cidade de Cobar, na Arábia Saudita. É uma sistema de pontes e viadutos sobre o mar, com extensão de 25 quilômetros, oficialmente denominada Ponte do Rei Fahd, apelidada Ponte Johnnie Walker, por um justo motivo.

 


A belíssima passagem sobre as águas, obra admirável de engenharia, é uma espécie de porta para o paraíso na Terra, que se abre principalmente para a população jovem da Arábia Saudita que, apreciando o consumo de bebidas alcoólicas, é proibida de praticá-lo em seu país, devido às restrições de cunho religioso. Embora o Alcorão tenha sob sua jurisdição também o Barein (tendo sido a região, aliás, uma das primeiras convertidas ao Islã), ali se abriram curiosas brechas à heresia etílica, talvez por força do multiculturalismo reinante, já mencionado.

 


Embora notória a presença de várias casas noturnas que servem álcool ao gosto do freguês e na quantidade que ele achar que aguenta, muitas de propriedade de estrangeiros, russos em destaque, trata-se, evidentemente, de um negócio que explora um nicho: de gente elitizada que se etiliza, às vezes até por pura ostentação – Alá que perdoe, que Maomé vá passear nas montanhas, poupando-as de vir até ele.

 


Não só do desejo de álcool se beneficiam os cobradores de pedágio para trafegar pela suspensa via Johnnie. A bebida (principalmente vodka e whisky), a música e a dança (alucinantes, sob luzes coloridas), assim como o jogo (mesas de bilhar a rodo) são espécies de bolo para a verdadeira cereja (ou mação, talvez, no caso) em questão: a necessidade irreprimível de interação entre os gêneros (homens e mulheres). Nos lugares “apropriados” de Manama (palavra que pode ser traduzida como “lugar de sonhos”), os atrativos femininos não estarão escondidos obrigatoriamente por peças de roupa impostas pela Lei, tampouco homens e mulheres devem se manter separados, como, por exemplo, na mesquita e nos assentos de ônibus.

 


A coisa, nas noites de final de semana, é de tal natureza, em Manama, que um brasileiro não tão jovem pode concluir que para uma simples paquera, jovens sauditas precisam munir-se de condições altamente exigentes para atravessar uma ponte internacional que lhes permita, enfim, contato, inicialmente visual, para, simplesmente, se aproximarem entre si com intenções elementares. Logo ali, onde alguns afirmam, por causa da presença da “Árvore da vida” (um exemplar de 400 anos, no deserto, sem irrigação, que é motivo de visitas turísticas), que foi, um dia, o Jardim do Éden... Quem diria? O movimento, no Barein, foi do idílico ao etílico, com o andamento da sua História.



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