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Foto do escritorValdemir Pires

Caçador do tempo



Falávamos da vida, sorvendo lentamente um cafezinho simples, mais símbolo de um encontro do que bebida degustada. Assuntos em carrossel e, de repente, a pergunta: O que você é em relação ao tempo?

 

Pensei e não achei a resposta. Nunca havia pensado nisso, antes, apesar de estar às voltas com a questão do tempo há mais de cinco anos, lendo, refletindo, escrevendo.

 

– Não direi um estudioso. Sei que você o estuda, mas não é isso. O quê, então?

 

O carrossel da conversa girou novamente, por um tempo, eu ainda procurando a resposta. Registrei que ela me parecia oportuna e desafiadora. Quando uma suspeita me ocorreu, eu disse:

 

– Sou um caçador, um caçador do tempo.

 

Resposta acolhida com entusiasmo. Então acrescentei:

 

– Um caçador frustrado, todavia. Pego o bodoque, e a arma é insuficiente – não é um pássaro que se possa derrubar com uma pedrada. Tento o puçá: não se trata de uma borboleta aprisionável. O tempo não voa, não, apesar de passar tão rapidamente. Penso numa espingarda: não dá para matar o tempo; não, não dá – é ele que dia desses nos matará, a cada um. Será o tempo um fantasma, a exorcizar? Não creio. O que, então, estou caçando? Sobretudo, por que esta caçada? Não sei, não sei. Sei não. Mas caço. Será isso, de fato, uma caçada? Ou uma caçoada, uma troça, uma pilhéria do tempo à minha custa?

 

Pediu-me ele que escrevesse a resposta em lauda única. Então, aqui está, caro Newman Simões. Com um abraço!

 

Piracicaba SP, 10/10/2024


Réplica:



•   euETempo   •

 

            O cafezinho esfriava nas xícaras enquanto esquentava a troca de ideias sobre o Tempo. Este, que é um grande mistério do universo, se viu “caçado” por palpites que se avolumavam a cada conversa e, com a própria corrida do mesmo, vão crescendo como a fronteira da “ilha do conhecimento” que aumenta sua interface com o imenso e incerto oceano do mistério desconhecido.

            Um pequeno e diferente ser (um ET, que não queria ser assim chamado) pairou como nuvem, mexendo com palavras e embaralhando conceitos, lendo o pensamento de um deles, interrogou ao outro: “como se vê frente a essa caça ao que seja o tempo?”  Um gole de café – quase frio – uma atenciosa elaboração de frases explicativas, um estranho e sorridente ar de desafiado: “bem, poderia me incluir como um “caçador do tempo” e, vacilando, “não sei se isso vale alguma coisa se não sei escolher a “arma” para cuidar desse safari”. Veio o socorro do ET (assim vou chamá-lo, mesmo a contra-gosto):

– Essa busca não se define pelas armas a serem usadas e nem pela caça que se persegue. Vá em frente e não se sinta um caçador frustrado, pois está imerso no tempo e, ao caçá-lo estará calçando o repertório de buscas para seu próprio auto-conhecimento. Lembre-se que, se alguém descobriu a água, não foi o peixe.

            Resposta do já assumido caçador:

            – Estou na caça ao tempo antes que possam me cassar o direito de caçar. Você pode caçoar pelo cansaço que sinto na busca da arma certeira para essa caça, mas a arma do caçador é a alma que caça a dor. Ainda não estou cansado e a caça vai prosseguir até que o cansaço não venha me coçar as ideias que possam me cansar de vez e desistir da causa.

            O ET, perplexo, coçou a cabeça e, em si próprio, causou, espanto em se perguntar se este tempo por eles pensado fora anterior ou posterior ao momento dele, que nunca se preocupara com isso!


Piracicaba SP, 12/10/2024

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