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Trump ainda não mordeu



Imagem: Wix
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Trump já latiu, rosnou, arreganhou os dentes, deu patadas, urinou nas bandeiras, esparramou dejetos pelo terreno. Mas ainda não mordeu. Por outro lado, ninguém ainda se atreveu a colocar-lhe focinheira ou coleira. Assim, ele segue livre e desimpedido, acompanhado da matilha que arregimentou.

 

Bastaram os latidos de Trump, todavia, para um susto geral. Não tanto porque ele é cachorro grande, da raça mais avantajada que há, mas porque comporta-se de modo absolutamente inesperado para a espécie, quando bem criada: contra o livre comércio, acena com um tarifaço descomunal; ao ambientalismo, dá mostras de um olímpico desprezo;  contra a globalização, fecha fronteiras e expulsa imigrantes; à Europa com a memória ainda fresca acerca da indispensável ajuda rooseveltiana para vencer a Alemanha nazista e também acerca da ajuda para reconstrução no pós-guerra (Plano Marshall), oferece um estrondoso tapa na cara diante do conflito entre a Rússia e a Ucrânia; a máscara estadunidense de irmão do norte de mãos estendidas ao sul, ao leste e ao oeste para programas de apoio ao desenvolvimento e de ajuda humanitária Trump está arrancando e pisoteando; o apoio a organismos multilaterais – incluída a ONU – parece que vai ser abandonado.

 

As reações ainda mal começaram. Não estão sendo tímidas, mas comedidas. Ninguém ostenta topete tão vistoso como o do recém-eleito presidente americano. E, também, até o momento, a comunidade internacional, felizmente, não aceitou ser transformada num canil tomado pela disputa, a unhas e dentes, pelos ossos que escasseiam.

 

O que não é dito, mas “está na cara” (na boca arreganhada, cheia de dentes e babando), é que Trump acha uma afronta desmedida um bando de Shih Tzu, Chow Chow e Shar-Pei rechonchudinhos invadir a sua área, ficar dando pulinhos de alegria, na sua frente, enquanto lhe confiscam biscoitos e ração.

 

Por enquanto, Trump comporta-se como cão sem dono. Se vacinado, ninguém sabe. Talvez morda, pois vontade não lhe parece faltar. Que ninguém se descuide, porque se ele não teme nem mesmo o urso, quem dirá o cão latino ao sul.

2 commentaires

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Z Hum
Z Hum
07 avr.

Uma análise metafórica inteligente sobre Trump como um cão sem coleira. Perspectiva interessante e preocupante das relações internacionais. Como o autor vê o futuro das relações EUA-Brasil?[i ching online]

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Valdemir Pires
Valdemir Pires
10 avr.
En réponse à

Com muita preocupação. Brasil precisa repensar sua diplomacia e seu comércio exterior com mais atenção para a regionalização.

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