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  • Foto do escritorValdemir Pires

Resistência



Sobre Resistência (2020), direção e roteiro de Jonathan Jakubowicz, com Jesse Eisenberg no papel de Marcel Marceau.

 

Resistência não é um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, nem sobre o nazismo, nem sobre a Resistência Francesa. Esses fatos históricos servem de moldura para a biografia de Marcel Marceau, o ator francês que se notabilizou pela arte da mímica e é considerado herói nacional pela sua atuação na Resistência Francesa. Mas o filme não é, propriamente, sobre Marcel Marceau: é sobre a ternura como forma última de resistência. Ternura um tanto bruta (nem por isso menos comovente), aliás, nas relações do jovem ator com seu pai, açougueiro que desejou ser cantor.


O filme é uma sucessão de cenas densamente poéticas, que giram em torno de um dilema em tempos de guerra: resistir é pegar em armas visando eliminar o inimigo, com grande probabilidade de morrer; ou resistir é fugir para longe do cenário de guerra, levando consigo tantos outros quanto possível, para se salvar? A dúvida torna-se ainda maior quando “os outros” são crianças órfãs judias, prestes a serem eliminadas pelos nazistas.  


Resistência mostra Marcel Marceau fazendo a segunda opção, juntamente com seu irmão, amigos e a mulher que ama (Emma), desajeitadamente ama. As cenas em que ele faz uso de sua arte para confortar e conquistar as crianças órfãs explodem em ternura. Numa delas, comunicando-se por meio de mímica, arrasta-as consigo para estrepolias que fazem esquecer a penúria e as ameaças do momento; os olhares e sorrisos encantados que os adultos ensaiam na cena são os mesmos que o expectador esboça diante da tela, o coração aquecido, a esperança renovada.


Depois de várias tentativas de preservar a vida de mais de uma centena de crianças na França sob ocupação, os protagonistas tentam levá-las para a Suíça, atravessando a neve. Durante a travessia, são descobertos pelos nazistas, liderados pelo histórico carrasco Klaus Barbie. Conseguirão escapar, usando as técnicas de se esconder em árvores que Marceau ensinou antes às crianças? Se conseguirem, serão todos? E o que poderá ser a vida dos sobreviventes depois de tantos percalços e perdas irreparáveis? Carregarão dentro de si a possibilidade de resistência em tempos de paz, depois de tudo que sofreram e perderam durante o conflito bélico? Em que medida a ternura poderá salvá-los de um futuro sedimentado sobre tantas desgraças?         

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