Um bom jeito de viver nas redes sociais
- Valdemir Pires
- 26 de jun.
- 3 min de leitura

Tenho tratado de modo de vida, estilo de vida e jeito de viver neste livro. A seguir trato rápida e superficialmente (apesar disso, esperando que com alguma eficácia) do jeito de viver nas redes sociais.
Fico imaginando o que anda sentindo (não digo pensando) Pierre Levy, o filósofo e sociólogo francês que, nos primórdios das possibilidades tecnológicas de conexão e interação virtual oferecidas pela internet, manifestava um tremendo otimismo. Porque se é fato que a internet e tudo que ela possibilitou representam um salto descomunal para o conhecimento e para as relações humanas, não deixa de ser verdadeira a afirmação de que as redes sociais, que se disseminaram rapidamente no ambiente virtual, tornaram-se palco e alvo de idiotas, imbecis e raivosos, tornando-se infovia da estupidez e da incivilidade.
É preciso combater o comportamento que Pierre Levy não esperava na nova dimensão da vida em sociedade (a virtual), ou, pelo menos, não contava que este pudesse vir a ser tão amplo e profundo como de fato é. Mas como combater?
Fala-se muito em regulação, ou seja, em tentar coibir desrespeitos e abusos, especialmente fake news e discursos de ódio. Provavelmente não será possível evitar isso, mas não é algo totalmente aceito (há quem defenda liberdade de expressão, mesmo que ela seja usada contra direitos estabelecidos ou e afronte a dignidade humana) e também não se trata de medida de fácil implementação.
Uma boa conduta, útil para pelo menos não contribuir com o lado nocivo das redes sociais, é cada um cuidar para não alimentar esse lado. É possível, ainda que às vezes isso falhe, adotar a atitude de não disseminar inverdades, nem de “consumi-las” e “revende-las”, sempre se questionando sobre as fontes e as intenções por trás do que é disseminado, especialmente se estiver viralizando. É possível também, e altamente recomendável:
- evitar fazer das redes sociais o saco de pancadas da própria solidão, das carências afetivas e das frustrações pessoais – talvez esse zelo reduza mais da metade do que circula nas redes.
- fugir da tentação de desfilar vaidades – “Olha que viagem eu fiz!”, “Veja que comida sofisticada eu comi”!, “Note como sou lindo(a) ou sexy!”, “Viu que casa/carro eu tenho?”... – e lá se vão para fora das infovias mais um tanto enorme de inutilidades.
- não iniciar nem alimentar discursos de ódio; mesmo quem não é adepto disso ou interessado nisso, muitas vezes entra na roda e faz o jogo – evitar responder, não alimentar o “fale mal, mas fale de mim”; se for impossível resistir à provocação, acrescentar texto, vídeo ou imagem positivo na direção contrária do negativo original: aparece um card com o rosto de um palestino com o keffiyeh (aquele lenço usado pelos homens árabes) com os dizeres: “Morte aos terroristas!”; reação: uma foto ou vídeo de uma criança judia caracterizada abraçando uma criança árabe também caracterizada (e nem se fale, no caso brasileiro, das farpas entre bolsonarista e lulistas – quanto tempo perdido, quanto talento que poderia ser melhor aplicado!).
Há uma frase de Pablo Picasso que aparece a todo momento nas redes sociais (e, note-se, ficar espirrando frase pra lá e pra cá também é um troço enjoativo, mas tudo bem, menos mal), que diz assim: “O sentido da vida é encontrar o seu dom. O propósito da vida é compartilhá-lo.” – se for para gastar tempo e talento nas redes sociais, que seja para seguir este conselho: tratar a internet como um lugar para compartilhar um dom. Mas um cuidado é fundamental: ter certeza de que se trata de um dom, não de uma mania... nem da detestável tentativa de se tornar digital influencer (isso não é nem vem de um dom, mas de uma vontade, geralmente ligada a querer aparecer/ganhar dinheiro sem esforço).
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