A Itália tem Roma, a cidade. Piracicaba tem Roma, o artista. E o Roma de Piracicaba andou pela Itália recentemente, lá atuando. Foi um momento em que A Itália teve, simultaneamente, Roma – a cidade e Roma – o artista. Piracicaba, por sua vez, jamais terá senão o artista, caso consiga não perdê-lo. Certos indivíduos, pelo que oferecem ao seu tempo, são verdadeiros patrimônios do lugar onde nascem, vivem ou nascem e vivem, embora nem sempre o reconhecimento ocorra, muito menos os benefícios dele decorrentes. Romualdo Sarcedo, o Roma, é um patrimônio da cultura piracicabana. E quem tem coração vai ao Roma.
Roma, lida de trás para a frente, é amor. Não sei se isso vale para a cidade eterna, mas sei que vale para o Roma, cujos sentimentos de ternura pelas pessoas e pela arte são quase palpáveis, revelando-se tanto nos palcos como na mínima conversação que se tenha com ele.
Regressando de sua temporada na Itália, Roma recentemente retomou seu Partir, interpretação encantadora de poemas escolhidos de Fernando Pessoa. Oferecerá uma segunda apresentação na noite de 8 de junho (sábado), na Biblioteca Municipal. É como se o ator prestasse um tributo ao autor (o poeta), apresentando-se não na sua casa (o palco, lugar de encenação), mas na casa de quem escreve, a biblioteca (lugar de leitura) – quem sabe os expectadores não saem de lá com obras de Fernando Pessoa para ler no silêncio de suas casas?
Quem tem coração vai ao Roma. Eu fui quando o espetáculo estreou, em 2014, no espaço intimista do Garapa. Foi tão emocionante que até hoje o evento ressoa em minha alma. É uma felicidade este encontro da escrita de Fernando Pessoa com a interpretação de Roma: a palavra (Ah, a palavra!), com toda sua força de significação poética, e com toda a intensidade que ganha pela verbalização artística, suspende o tempo, no contato com os ouvidos de quem a ela se abre. E de repente, acaba – o tempo retorna: é hora de a gente partir, de volta para casa. Mas quem tem coração volta outro: ninguém mergulha neste rio profundo e caudaloso sem se transformar. E a coisa toda, por sua vez, transforma o universo: pinga nele uma gota renovada de sensibilidade, infinitamente miúda, como tudo que é humano face à imensidão, mas, por isso mesmo, necessária.
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