Parem de bater na geração Z
- Valdemir Pires
- 19 de abr.
- 3 min de leitura

As ideias movem o mundo. Elas também podem paralisá-lo. As ideias ampliam o campo de visão. Elas também podem reduzi-lo. Assim tem sido, ao longo da História.
Generalizou-se a ideia de classificar grupos de indivíduos relacionando suas datas de nascimento a períodos demarcados por eventos de grande impacto na sociedade. Assim, fala-se na Geração Baby Boomer para juntar num só balaio todos os que nasceram entre 1940-1960, porque vieram ao mundo quando este passava por significativo crescimento econômico, recuperando-se dos estragos da Segunda Guerra Mundial.
Dado o chute, a bola continuou a rolar, voltando a ser chutada, nem sempre bem, aqui e ali. As gerações seguiram sendo batizadas: Geração X (1960-1980), Geração Y (Millennials – 1980-1996), Geração Z (1997-2010) e Geração Alfa (2010 em diante).
Ultimamente o noticiário e as postagens nas redes sociais andam eivados de juízos, julgamentos, avaliações e – corolário – condenações e até xingamentos a esta ou àquela geração, pelos seus defeitos. Defeitos, claro, quando um comportamento ou as atitudes desta ou daquela geração não entra em sintonia com o comportamento ou as atitudes de quem pertence à geração que faz a crítica ou lança o anátema.
Há nisso dois grandes problemas que é necessário detectar com muita clareza, para combater frontalmente.
Primeiro: a mania de juiz, com o direito de enquadrar todos os outros e o mundo, que se enraizou entre os homens/mulheres comuns alçados à condição de profundos conhecedores a partir da colheita indiscriminada de dados e informações fáceis (não necessariamente corretas) disponíveis na rede mundial de computadores; informações a partir das quais os novos Doutores diplomados na URSC (Universidade das Redes Sociais e Congêneres) sentem-se em condições de pontificar sobre absolutamente tudo, desde a melhor maneira de fritar batatas, até as verdadeiras causas do conflito no Iêmen, passando pela interpretação inequívoca da obra de Nitzsche e Heidegger.
Segundo: a facilidade com que o pensamento raso tende a aceitar generalizações, por mais absurdas que possam ser. Basta lembrar duas ondas desse tipo de abordagem para se entender do que se está tratando aqui. Uma, o determinismo geográfico, a partir do pensamento de Humboldt (1769-1859), praticamente condenando à condição inferior todos que não tivessem a sorte de nascer nos melhores recantos do planeta, em termos de relevo, clima etc. Outra, o determinismo biológico/genético/anatômico que alicerça as teses de Lombroso (1835-1909), a partir das quais a tendência ao crime acompanha certos indivíduos desde o nascimento, devendo isso ser considerado pelo Direito Penal .
Ambas as ondas citadas são sustentadas por argumentos e teorias construídas com árduo esforço, abrigadas por metodologias que, no momento de sua formulação, eram bastante respeitadas. Por isso, apesar de serem insustentáveis frente a outros argumentos e teorias, mais consistentes, elas ainda continuam a conquistar adeptos aqui e ali.
A onda do que bem pode ser denominado determinismo geracional ou histórico-temporal se acrescentou a essas e outras. Mas é bastante evidente que, mais que todas, ela carece de qualquer base científica, não passando de modismo tolo, brincadeira inconsequente.
Não é possível aceitar, por exemplo, que sobre um candidato a emprego pese, antes mesmo de dar o primeiro passo num processo seletivo, um preconceito como o de que a Geração Z tem dificuldades para se comunicar, para manter-se num emprego por longo período, para lidar com frustrações (etc., etc., etc., conforme o que o “analista” esteja querendo destacar, de acordo com suas conveniências). Até quando será preciso argumentar e demonstrar que generalizações que rotulam o indivíduo a partir de características genéricas de um grupo (em geral mal delineado), não passam de completos equívocos, quando não de puros absurdos.
É preciso parar de bater na geração Z. Mais e definitivamente: é preciso parar de bater ou de adular este ou aquele indivíduo com base no inconsistente e prejudicial procedimento de tomá-lo por algo que não é nem pode ser: produto de condições que não têm a possibilidade concreta de gerar “itens” (pessoas) standard, como faz (ou fazia) a indústria tradicional, aliás, ela própria superada pelos novos padrões produtivos da atual indústria flexível e permanentemente inovadora.
Muito pertinente as considerações do autor, este tendência cria estereótipos preconceituosos!
Roberto Carlos Miguel