Passagem do tempo e destruição material se correspondem entre si. Dizer: “Esta casa está muito velha” é o mesmo que dizer: “Esta casa está bastante desgastada, quase destruída”. Neste sentido, o tempo é o processo de desmaterialização de tudo o que fisicamente existe, e que, em Contabilidade se identifica com a depreciação, que demanda provisões na forma de gastos potenciais, mas inevitáveis. Todos que possuem uma casa, precisam guardar (provisionar) dinheiro para reformá-la de tempos em tempos, pois do contrário ela ruirá.
A própria vida é um processo de destruição: sua sustentação depende do consumo de bens materiais. A alimentação, por exemplo, consome (destrói) os materiais necessários à obtenção de energia e à restauração física. A carne utilizada como proteína é a vaca fatiada (morta, destruída) para ser consumida na forma de refeição.
Para fazer frente ao consumo (destruição) atual, o que se faz é providenciar novos materiais para o consumo futuro, pois do contrário este futuro trará consigo a impossibilidade de continuidade da vida, por terem sido destruídos (consumidos) todos os materiais necessários à sua manutenção. Se todas as vacas fossem transformadas em churrascos hoje, a espécie desapareceria e esta fonte de proteínas secaria. É por isso que alguns bovinos são preservados (retirados do consumo) para reprodução. Esta preservação significa não consumir algumas vacas, ou seja, poupá-las. Então, poupança é o contrário de consumo: preservação. Consumo é destruição (matar a vaca e ingerir sua carne); poupança é preservação (manter viva a vaca, para manter um plantel disponível para o futuro).
Assim, consumir é um ato presente de destruição; poupar é um ato presente de preservação, visando destruição futura. Em outras palavras: o consumo precisa ser praticado considerando-se uma intertemporalidade, uma relação entre presente e futuro. Ou seja: o tempo é uma variável fundamental da lógica econômica, cuja compreensão proporcionou aos homens uma capacidade excepcional para lidar com a escassez. O tempo está no centro da lógica econômica desde que a Humanidade percebeu que não pode viver indefinidamente como simples coletora do que a natureza proporciona (caçadora, pescadora ou beneficiária de plantas que não semeou) independentemente da sua intervenção intencional e da habilidosa (técnicas) para produzir, transformar.
O dinheiro, como símbolo representativo dos bens materiais, com poder de neles converter-se, pela troca (compra e venda), acabou sendo o indicador por excelência da intertemporalidade econômica que resultam em consumo (acelerador da destruição) e poupança (freio da destruição). É o volume de dinheiro disponível (liquidez) que funciona como indicador da possibilidade de consumo ou da necessidade de poupança. Bolso cheio, menos necessidade de poupança; bolso caminhando para se esvaziar, necessidade de poupança.
O orçamento é um instrumento simples para se conseguir uma condução segura neste desafio de acelerar-frear o consumo, visando manter o movimento com aceleração correta (sem correr demais nem parar), no presente e no futuro. Ele é um fluxo de caixa projetado, que permite antecipar quanto dinheiro haverá no bolso a cada mês ou ano por vir, considerando-se o que se imagina obter de receita e quanto se avalia que haverá de despesa em cada um desses períodos, calculando-se o saldo (receita menos despesa), para, assim, saber quando faltará e quando sobrará dinheiro, de modo a guardar (poupar) as sobras para cobrir os volumes faltantes que podem ocorrer. Por mais volumoso ou sofisticado que seja, na essência é isso, somente isso, um orçamento. E ser ter consciência deste fato, o método orçamentário se torna uma prática sem sentido, geralmente inútil e muitas vezes dispendiosa.
Comments