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O guardião da moeda e o orçamento

  • Foto do escritor: Valdemir Pires
    Valdemir Pires
  • 21 de jun.
  • 2 min de leitura

A teoria econômica predominante (a que se ensina nas "melhores" escolas, a que os "economistas profissionais" aplicam no seu dia a dia, a que o "noticiário especializado" ouve e amplifica) diz que o Banco Central é o "guardião da moeda", ou seja, toma a si a ingrata mas fundamental tarefa de combater a corrosão do poder de compra do meio circulante, pressionando a inflação para baixo sempre que ela aponta para cima. O principal instrumento utilizado para isso é a taxa de juros: quanto maior esta, mais propensos a poupar e, por decorrência, menos consumista estará o agente econômico individual, com base num comportamento tipicamente maximizante dos retornos de seus recursos escassos. Este o fundamento do que se denomina política monetária, pretensamente neutra do ponto de vista do poder, voltada exclusivamente para o lado puramente econômico das relações sociais.


A mesma teoria econômica - liberal e, quando extremada, neoliberal - encara o orçamento público (o instrumento por excelência da política fiscal, juntamente com a dívida pública) como uma espécie de doença da economia: tira dinheiro das mãos do agente econômico individual que produz a riqueza (e portanto lhe pertence), para gastar com itens que ele não necessariamente deseja (embora devesse...), inclusive redistribuindo-a sem contrapartida de natureza mercantil (toma-lá-dá-cá).


Assim concebidas as políticas monetária e fiscal, uma é colocada contra a outra; o governo fica sendo o bandido e o banco central ("independente", ou seja, livre das influências políticas dos governantes eleitos, se levado a sério) o "mocinho"; o governo age como gastador inconsequente e o banco central atua para conter o ímpeto populista que está no DNA dos governantes, sempre em busca de se manter no poder por meio dos votos do "povo".


Por mais argumentos, modelos e dados que os economistas teóricos arregimentem para dar densidade explicativa para esta visão geral do funcionamento da economia mercantil capitalista altamente monetizada e "creditificada" (o governo o principal tomador de empréstimos para rolar a dívida pública crescente), eles não conseguem escondem o fato principal (embora se esforcem para varrê-lo para baixo do tapete): o choque entre a política monetária e a política fiscal é um dado revelador da disputa que acontece e não cessa, no capitalismo, entre os pobres (beneficiados pelas políticas sociais que permeiam o orçamento público/a política fiscal) e os ricos (beneficiados pelos rendimentos das aplicações financeiras de suas poupanças, que a política monetária amplia elevando as taxas de juros).


Assim, do ponto de vista do rico, o Banco Central é o "mocinho", no faroeste do mercado; mas do ponto de vista do pobre, ele é o bandido. E aí fica a pergunta: existe objetividade/neutralidade possível na ciência econômica? A resposta é mais que evidente: NÃO!


Portanto, o que o Brasil está vivendo nos últimos meses, com a taxa de juros básica da economia atingindo as nuvens (15%, a segunda maior do mundo), é o acirramento de uma espécie de guerra civil - não declarada, nem facilmente percebida por todos, apesar de letal, como toda guerra.

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