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Foto do escritorValdemir Pires

Introdução à teoria econômica de John Rogers Commons



Sobre GUEDES, S. N. R. Introdução à Teoria Econômica de John Rogers Commons. Curitiba: Appris Editora, 2019.


Acaba de ser publicado, de  Sebastião Neto Ribeiro Guedes, professor livre-docente do Departamento de Economia da UNESP/FCL-Araraquara, pela Appris Editora, 205 páginas, a excelente Introdução à Teoria Econômica de John Rogers Commons.


A obra merece calorosa acolhida e atenção dos potenciais leitores, pelo que contém em si e pelo que pode significar no debate (?) econômico que atualmente se trava (?) no Brasil.


O professor Sebastião Guedes de longa data dedica-se ao estudo das vertentes institucionalistas da Economia e também ministra disciplinas sobre pensamento econômico e metodologia científica nesta área. Com esse cabedal foi-lhe possível, a partir da leitura das obras originais de Commons, mapear as principais categorias e conceitos desenvolvidos por este economista de intensa atuação, na academia e na vida político-administrativa americana, nas décadas iniciais do século XX. Concatenados entre si, essas categorias e conceitos permitem um visão do que se pode, adequada e legitimamente, chamar de pensamento econômico de Commons, considerando-se inclusive os elementos básicos para uma quase-teoria microeconômica, que parte da concepção dos produtores-ofertantes como grandes empresas, cujos proprietários estão interessados, prioritatiamente na valorização dos seus ativos e não otimização da produção, ao contrário do que fazem os economistas neoclássicos predominantes ao tempo de Commons, que consideram as firmas como agentes atomísticos (pequenas) racional-maximizantes da produção, do custo e da oferta. Daí salta aos olhos o fato de Commons ser avesso à leitura do mercado como um mecanismo neutro e equilibrador da oferta e da demanda, por meio, exclusivamente, da lei da oferta e da procura. Para ele, não há preço de equilíbrio, mas preço “razoável”, fruto de confrontos de interesse, que devem ser mediados, devendo o Estado prover essa mediação. Não há mercado funcionando bem, muito menos a serviço da eficiência e/ou da justiça, num vácuo institucional. O Estado não só organiza e viabiliza o funcionamento das regras e mecanismos mercantis, como está na origem da constituição do sistema de preços tal como hoje conhecido.


É exatamente destas características da teoria de Commons – tão profunda e didaticamente demonstradas pelo professor Guedes – que deriva o  interesse do livro no debate econômico atual no Brasil. Ele é um subsídio importante para se refletir sobre os argumentos que têm norteado a política econômica do país, mormente desde o governo Temer. É notável que Commons, um liberal esclarecido, engajado em reformas nos governos americanos do começo do século XX, em diálogo com os setores produtivos e sindicatos, questione, frontal e corajosamente, combatendo visões tanto comunistas como fascistas, muito do que hoje se propõe e implementa no Brasil, como desregulamentação da relação capital-trabalho, ênfase excessiva na busca de equilíbrio fiscal (à revelia dos custos sociais correlatos), desarticulação das redes de proteção social.

           

O Guedes deste livro nem de longe tem concepções como a de seu potencial parente atuante no Ministério da Economia do governo brasileiro. A tarefa que se atribui foi a de colher e sistematizar elementos teórico-metodológicos necessários à crítica das políticas econômicas tal como se apresentam sob o neoliberalismo que tem se abatido sobre a América Latina. Faz isso por militância política? Claramente não: faz por rigor científico. O mesmo que falta a quem se limita a uma só  corrente de pensamento para justificar – mais do que explicar – medidas tomadas a partir das estruturas de poder que derivam exatamente do que negam: o Estado.


O Guedes cientista que resgata o pensamento commonsiano e o insere no Brasil, onde é muito pouco conhecido, é de outro naipe. Além de mapear os fundamentos desse pensamento, situa o pensador que o formula na realidade social, econômica e política americana de seu tempo e, mais ainda, demonstra os laços de ligação de suas formulações com o pragmatismo americano (Peirce e Dewey) e com a escola histórica alemã.


Bem-vindas sejam essa Luzes para o Futuro!

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