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  • Foto do escritorValdemir Pires

Em fuga do tempo encontrado



Há muitas maneiras de compreender e também de sentir o tempo: tempo-instante, tempo-momento, tempo-memória, tempo-história, tempo-clima etc. etc. Mas o único tempo que encontramos facilmente é o tempo-relógio: este tempo artificial que se pode medir com uma máquina onipresente – o tempo que nos obriga, nos disciplina, nos consome e, ao fim e ao cabo, nunca é nosso. Em busca do tempo perdido, Marcel Proust (1871-1922), teve que se desvencilhar dos dias, das horas, dos minutos e dos segundos, da cronologia convencional, enfim, para, em sintonia com Henri Bergson (1859-1941), o filósofo da duração, espreitar o tempo espiritual que delineia a personalidade de cada um, na lida quotidiana com os sentimentos, alegrias e tristezas que o correr da vida proporciona e impõe.

É possível dizer que no seu livro magistral, Proust teve que fugir do tempo encontrado (o do relógio - tempo mensurável, objetivo) para ir em busca do tempo perdido (tempo-eu, tempo meu, tempo subjetivo, único e inconfundível). Assim como ele, cada um de nós, se quiser se conhecer e se libertar minimamente da voracidade do tempo estritamente cronológico (aliás transformado em dinheiro e subordinado ao deus-produtividade), precisa se esforçar para fugir desse tempo encontrado a cada minuto de cada dia da vida subordinada à luta pela sobrevivência.

Para fugir do tempo encontrado (“objetivo”) e ir ao encontro do tempo perdido (“subjetivo”), o primeiro passo é estranhar o tempo tal como sentido “normalmente”, rejeitar a noção corrente de que tudo sabemos a seu respeito, pois, de fato, muito pouco sabemos sobre o tempo. A única maneira de fazer isso é dedicar algum tempo para refletir sobre o tempo, abordando-o a partir de diferentes perspectivas e pontos de vista, relacionando-o a múltiplos e variados aspectos da vida, tentando montar uma espécie de quebra-cabeças a partir das diferentes imagens do tempo. E fazer isso sem pressa, como quem brinca e se diverte, pois do contrário, estar-se-á outra vez obedecendo ao deus-produtividade, o verdadeiro senhor do tempo de que precisamos todos fugir, com urgência.

É por isso que esta newsletter, recentemente batizada com o nome Cronoeconomia, é agora rebatizada para Em fuga do tempo encontrado, em homenagem a Proust e Bergson e, também, para fazer jus aos seus futuros conteúdos.

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