-- A culpa é do prefeito! Onde já se viu, fazer um orçamento “porco” assim? Claro que ia dar nisso: déficit orçamentário, déficit financeiro, gastos mal priorizados, desperdícios... Onde já se viu um plano para a Educação tão inconsistente e incoerente? Claro que ia sobrar para professores e alunos. Incompetente!
O político que chega, e logo se vai, se não reeleito, é sempre o culpado; ele é quem foi eleito para fazer a máquina andar, botar as coisas para funcionar; foi nele que os eleitores confiaram e terminaram frustrados pela má administração. Daí para a atual criminalização da política, um pequeno passo, que dependeu apenas da iniciativa de gente com poderes que independem do processo eleitoral.
Mas é preciso pensar um pouco mais sobre o assunto. Há prefeitos irresponsáveis OU incompetentes e prefeitos irresponsáveis E incompetentes? Sim, com certeza. E prefeitos responsáveis e competentes que não conseguem fazer a prefeitura funcionar bem, esses existem? Sim, também com certeza.
Por que, então, há prefeitura que não funcionam bem apesar do comando de bons prefeitos? Simples: porque o bom funcionamento da prefeitura não depende só de o prefeito ser capaz e comprometido com isso. Além do líder, os liderados necessitam ter qualidades. Essas qualidades não nascem do nada, precisam ser semeadas e cultivadas. De fato, exigidas.
Por isso, Escolas de governo municipais são uma necessidade fundamental nas prefeituras brasileiras. Por meio delas pode-se dar passos significativos na qualificação do funcionalismo municipal. Elas são um requisito inevitável para que bons prefeitos consigam fazer valer suas decisões e garantir as ações correspondentes. Principalmente porque, primeiro, os concursos públicos, como são realizados, não recrutam, de fato, com base nos méritos técnicos que justificam sua existência; segundo, porque os comportamentos e atitudes do conjunto dos servidores não vai, naturalmente, na direção da competência e do compromisso – há que criar um clima organizacional para isso, há que se desenvolver mecanismos que gerem o apetite e o envolvimento com atividades formativas, de modo sistemático e continuado.
Bem, se o Prefeito, sabendo disso, não cria e não se esforça para que a Escola de Governo funcione, então, aí sim, ele tem uma dose de culpa maior pelo fracasso na gestão. E, ainda assim, se a Escola for criada, a adesão do público-alvo é algo que não fica sob controle do Prefeito.
Mas tem mais: os cidadãos-eleitores-contribuintes têm lá sua parte na culpa. Quando foi que reivindicaram a existência de Escola de Governo? Nunca, pelo que consta. Apesar de em sua maioria acharem que educação é prioridade. E por que não seria a educação continuada daqueles que têm por atribuição gerir a coisa pública nos níveis gerencial e operacional?
Talvez fosse o caso, inclusive, de se permitir que as despesas com Escolas de Governo pudessem ser computadas nos 25% obrigatórios nos municípios, até um certo percentual, talvez entre 0,5 e 1,0%, conforme o porte da cidade.
Saiamos do tribunal popular e passemos às fábricas de ferramentas de gestão e cidadania! Urge que os governos locais funcionem. E para isso necessitarão, cada dia mais, de competência política (a ser conquistada nas eleições, por eleitores conscientes) e de competência técnica (a ser obtida por meio de melhores concursos públicos e de Escolas de Governo que funcionem).
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