Sobre É o que tem, de Ésio Macedo RIBEIRO, (São Paulo: Patuá, 2018, 200 p.).
É o que tem (baste ou não), vai mostrar Ésio Macedo Ribeiro em seu primeiro romance, que leva este nome: É o que tem. Mas o que é que tem?
Tem pano para mangas, esta obra sensível e reveladora (necessária para hoje como nunca, pode-se dizer), redigida em tom de “Decifra-me ou devoro-te!”, exigindo do leitor um deixar-se levar, a ver aonde se chega. Sabendo, de antemão, que não chegará feito viajante que tem mapa e traquejo para as trilhas já conhecidas e, portanto, mapeadas. “Viver é como desenhar sem borracha.” (p. 25)
“Sei que vocês que me leem agora não estão entendendo muito ou quase nada do que eu digo, porque o que eu digo tem lá suas estranhezas mesmo. Não que eu queira ser obscuro ou hermético. É que a história me exige alguns desvios de curso, o que por sua vez me leva a ser, sim, obscuro & hermético. Uma hora ou outra haverá o desenlace & todos poderão reparar no que descrevo.” (p. 94) É ler até o fim, ainda que tropeçando e, às vezes, soluçando. No fim está a recompensa. Vale a pena.
Reminiscências de pequenas cidades, efervescências de metrópoles – mudanças; família (como sempre, com seus nós – se não na garganta, no pescoço), amores, dores, drogas e morte – e haja o que houver, vida, que se quer vibrante, longe das mesmices e águas paradas; e mais longe ainda de preconceitos. “A vida diminui ou se expande de acordo com nossa coragem.” (Anais Nin)
Incontáveis buscas – de si, do outro, da aventura e da bem-aventurança, do prazer, do conhecimento, do sentido da vida. Buscas encantadas e desesperadas. Busca de ser, sabendo que “Ser o que se pode é a felicidade.” (Valter Hugo Mãe) Experimentando até o limite, tentando descobrir o quanto se pode. Às vezes flertando com a medonha possibilidade de pôr fim a tudo, com as próprias mãos trêmulas, medrosas. Solidões.
Nunca é fácil seguir em frente, sobretudo com permanente endividamento: “Veado é a palavra que nos endivida até a morte.” (p. 145) Mas como se contrai tal dívida? Não se pense que a resposta pode ser dada olhando de fora, do camarote observando os movimentos de endividados. Não, “Não basta ter olhos. Ver é um passo além de ver.” (p. 64). Ler ajuda. Principalmente boa literatura, como É o que tem.
Valdemir, muito obrigado por ter lido, gostado e escrito sobre meu romance. O Sebastião, que lhe emprestou o livro, me passou o link. Fica em contato. Abraço agradecido.